terça-feira, fevereiro 26, 2008

Terça-feira não é dia de ter vida social

Por que será que tendo tempo suficiente para trabalhar com calma, me entrego à enrolação e acabo sempre correndo de última hora?

My Own Personal Sitcom

Dia desses, uma amiga contou a hilariante saga de seu irmão caçula para perder a virgindade, que acabou interrompida com a chegada da família. Ela concluiu: "Ju, parecia uma das suas histórias". Outra comentou que qualquer história tem uma sucessão coerente de fatos, mas se é comigo, tudo que é inusitado e esquisito pode acontecer.

Bueno, depois de passar alguns dias escutando um papo de um sujeito que, se não andou me cantando, talvez estivesse me confundindo com uma caixinha de Lexotan, ontem encontrei online um ex-ficante deveras interessante. Havia meses sem notícias do sujeito que, como toda pessoa sensata nesta cidade, mudou de estado.

Depois de uma fase inicial sobre atualizações rotineiras, o papo finalmente começa a esquentar. Temas: sexo, memórias e práticas onanistas. Eu já ia começar a me soltar para entabular um "virtualzinho básico", o que acontece? Blecaute.

Sem quê nem para quê, simplesmente cai a energia do bairro inteiro. Breu total. Eu quase não conseguia me locomover pela casa de tanta escuridão, enquanto tentava tatear em busca de um isqueiro, vela, algo que iluminasse. Isso por volta de onze da noite.

De vela em punho - e muito puta, obviamente - fui tirar a roupa da máquina de lavar, pensando no que não tinha acontecido. Fui dormir, um calor desgraçado. Depois de uma hora fritando na cama, volta a luz.

A essa altura do campeonato, só me restava mesmo ligar o ventilador e pegar no sono.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Ainda não foi dessa vez...

Com muita enrolação, desecontros e desculpas esfarrapadas, fui levada a acreditar que a doadora desistiu de me entregar a gatinha. Em nenhum momento ela admitiu isso. Do mesmo jeito que eu não admiti que talvez não esteja preparada nem podendo de fato investir nesse afeto. Falo até de grana mesmo.

Parece que tem horas que o destino sozinho pega as rédeas e dá conta das situações sem que seja necessário que a gente diga uma só palavra.

Só sei que foi assim.

sábado, fevereiro 23, 2008

Buenos dias

Agora que meu levei um bolo de meu amigo, que preferiu sair para conhecer alguém à procura de sexo e doses homeopáticas de amor, tenho um ingresso sobrando para o teatro e outro para um show. Certo ele. Otária sou eu, que não estou fazendo a mesma coisa.

Queria ter um fuck-friend na manga para preencher essa vaga aberta. Todo mundo agora tem um fuck-friend. É moderno e descolado. Também quero um. Quer ser meu fuck-friend? Escreva para:

Rua Saturnino de Brito, 74
Jardim Botânico
Rio de Janeiro-RJ

Se eu não abrir, não se preocupa, que a Xuxa abre a sua cartinha.

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Ontem fui apresentada a uma menina e no ato lembrei que já tinha ouvido falar dela antes. Não eram exatamente coisas lisonjeiras, então olhei para ela profundamente e - provavelmente - com uma cara estranha. Tentei consertar:

- Acho que te conheço de vista de tal-lugar. Você trabalha lá?
- Não. Só estive lá umas duas vezes.

Massa, agora ela pensa que sou uma stalker lésbica de memória fotográfica.

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O que a gente faz quando fogem as alternativas e você se torna um analfabeto para o otimismo? Vou sair com uma garrafa de vinho na mão.

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Os ingressos são para hoje à noite. 20h e 21h, respectivamente.
Liga pra mim, que tou facinho.

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

De orelhas, bigodes e rabo

A partir de amanhã, compartilho meu espaço com outro ser vivo. Chegará a gata, inicialmente preta, que imagino estará rajada até a idade adulta. Ainda pairam indefinições sobre seu nome, uma vez que preciso olhá-la com calma na cara para descobrir o que suas feições felinas me dizem. Batizar uma criatura é uma ciência melindrosa. Necessita olho atento e alma sensível. Quando chegamos cheios de conceitos e prosa, nem sempre o nome casa com o gênio e a corporalidade do ser. Tenho uma planta chamada Aurora, mas faz tempo que não a chamo assim.

Adotarei uma gata em parte por meu amor aos felinos, em parte pelo vazio que sinto em minha casa. Fico esperando que cheguem cartas por debaixo da porta para que haja algo diferente de quando saí de manhã. Com a gata será tudo diferente, em parte uma expectativa preocupada de saber se estará tudo inteiro e no lugar. Ou limpo. Se a gata continua viva. Se demonstrará afeto.

Estou bem atrasada com os preparativos para receber a bichana. Só dei conta de guardar a coleção de livros mais nova num lugar inalcancável por urina de gato. Mas ainda há muita coisa espalhada meio escondida pelo chão. Se quando você vai receber um móvel é necessário ter o espaço definido para ele, área limpa para encaixá-lo, quando chega uma novidade de carne e osso, então, a pré-produção é mais delicada ainda. É mais do que espaço que ela precisa. É uma antecipação dos cuidados com seus movimentos, seus humores e sua rotina.

Amanhã terei de acordar cedo para providenciar algumas coisas, como a caixinha de areia e a ração. Eu sou terrível porque sempre sei o que preciso fazer, mas é raro tomar a atitude no momento certo. Sou preguiçosa e sempre acabo dando mancadas no estilo Homer Simpson. Duh! Sou brasileira e não aprendo nunca.

Hoje, à medida que a hora passa e se aproxima do fato concreto de trazer uma gata para minha casa, inteiramente sob meus cuidados, começa a me bater um pavorzinho. Será que isso vai dar certo? Não sei mais se tomei a decisão certa ou não. Confesso que estou levando adiante porque a oportunidade se atirou na minha frente como uma suicida diante de um trem. Mas acho que a vida tem isso mesmo, um componente de enchente de arrastão. Não dá pra manter o controle do barco 100% do tempo e as puxadas da correnteza dão uma emoção gostosa.

Que seja bem-vinda a vida da qual irei tomar conta!
(isso é o mais perto de filho que pretendo chegar)

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Pêlos, meu deus!

Então que assisti A Pele, com Nicole Kidman e Robert Downey Jr. O filme é fodão e sensível, mas impossível não fazer piada com ele. É um crossover de As Horas e Starwars. Senhoras e senhores, a australiana mais bem paga de Hollywood mantém um caso extra-conjugal com um Wookie. Difícil não rir disso.

Apesar das gracinhas, na minha opinião, sobram qualidades no filme. Para começar, é um filme cheio de clima... A direção consegue provocar efeitos fantásticos olhando através de buracos, com ambientes escuros e com a entrada precisa da trilha sonora. Não pude deixar de pensar que, caso o diretor do patético O Albergue tivesse o mesmo talento, seria capaz de fazer um filme bem assustador.

A Pele tem uma história estranha, com atmosfera ao mesmo tempo sinistra, bizarra e sensual. Há coisas bem inacreditáveis ali, mas o espectador fica grudado na tela para ver até onde vai a delicada relação entre a deslocada esposa dedicada e a charmosa aberração de circo. O filme é uma ficção inspirada na vida da fotógrafa americana Diane Arbus, que de opaca assistente do marido em fotos publicitárias, se tornou uma artista reconhecida nos USA dos anos 50/60.

Robert Downey Jr, coberto dos pés à cabeça da pelagem que dá origem ao título original (Fur: An Imaginary Portrait of Diane Arbus), consegue ultrapassar de maneira convincente a aparência medonha de Lionel Sweeney, tornando-o sedutor. Nicole Kidman, por sua vez, calça os sapatos de Diane e parece estar se especializando em papéis de pessoas deslocadas do senso comum da realidade. Será a ruivinha uma criatura estranha também?

Diane é uma mulher sutilmente atormentada por sua visão de mundo incomum, que não se encaixa na vida tradicional de mãe-de-família que acabou trilhando. Através da relação com o peludo Lionel, ela entra em contato com um mundo onde as pessoas são fisicamente tão pouco convencionais como sua mente - ela então se sente à vontade entre outros freaks.

O filme toca em algumas questões sobre o universo feminino, como a diferença entre os caminhos de carreira e família e a manifestação da sexualidade. Afinal de contas, porque é possível acreditar que aquela mulher se sente mais estimulada pelo vizinho wookie de fala macia do que pelo marido engomadinho?

A narrativa entrelaça um novo amadurecimento de Diane - o desenvolvimento de seu olhar como fotógrafa - com a relação e o tempo de vida que resta ao seu querido vizinho. São duas horas de estranhamento e poesia, acompanhando o despertar de uma mulher multifacetada e muito interessante.

Recomendo aos rapazes que se inspirem nas atitudes e gestos de Lionel, mas por favor, não deixem de se livrar dos pêlos inconvenientes.

domingo, fevereiro 17, 2008

Last night she said...

São cinco para as seis da manhã e acabo de chegar da Nave. De ônibus. Cara, estou me virando cada vez melhor sozinha. O que é ótimo. E o que é péssimo, porque as pessoas vão deixando de se preocupar como é que volto para casa. Gosto quando tomam conta de mim, não porque preciso, mas quando assim desejam. Parece que cada vez mais eu preciso de menos atenção. Sempre não exatamente acompanhada, no frigir dos ovos sozinha. Atenção: procura-se um sugar daddy.

E por falar em açúcar, o café da manhã antes de dormir foi uma banana, um copo de iogurte (light) de ameixa e um dulcíssimo alfajor, com recheio de doce de leite. Para arrematar, mais um copo d'água. Em 3 horas Stefan me acordará para irmos ao Parque.

Cheguei na Nave depois de aparições-relâmpago pelo show de Alceu Valença (Pelourinho) e de Vânia Abreu (Porto da Barra - infelizmente, não tão relâmpago assim). Não vi conhecidos nestes dois lugares, acompanhada de outros dois aventureiros do verão soteropolitano. Acabei no Pós, onde sempre dá para se sentir em casa. E eu era a pessoa mais velha na mesa.

Na semi-escuridão da festa, objetivos e miragens. Beijos de canto de boca completamente acidentais e indevidos. Se eu quisesse fazê-los, jamais conseguiria. Já de manhã, uma despedida, uma trave. Teria vindo a calhar. E na garganta, prudentemente guardados, alguns pedidos.

Preciso repensar a minha logística de distribuição de beijos. Sem saber o nome, vá lá, mas minha generosidade não anda nem mesmo olhando a cara. Brincadeira, por brincadeira... Quando Vera Fisher incorpora, haja Listerine! (Eu tenho certeza de que, quando passar dessa para a melhor, La Fisher vai virar entidade de umbanda das casas do Rio de Janeiro. ) Às vezes você se bate com gente carente, é um saco. Preferi me enfiar num triângulo imaginário, em que tecia as histórias paranóicas e tricotava os desejos sozinha. Mini-jogos de gato e rato.

Pés doendo de tanto dançar. Saí de botas e camisola. Todos gostaram do vestido, ninguém suspeitou a verdade a seu respeito. Foi ligeiramente rasgado e queimado por terceiros. Era sexta-feira da Paixão e eu me chamava Judas. No testamento, deixei a minha língua.

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

e neste sábado...


Só não vai quem já morreu!

All I need is Love

Para os meus amores passados e os ainda possíveis

Tá bom, eu assumo: eu sou uma idiota que gosta de histórias de amor. Praticamente todos os dvds que tenho em casa contam histórias de amor. Moulin Rouge, Romeo + Julieta, Cyrano de Bergerac, Amélie Poulain, Vida Bandida e até Clube da Luta. Elas mexem com minhas fantasias e, quando bem contadas, têm a capacidade de tirar meus pés do chão, cabeça entre as nuvens. Não é qualquer história de amor que me convence, é claro. O estilo conta muito, que também não vou me entregar a qualquer lero-lero.

Acabo de ver Across the Universe, um filme pra lá de fofinho, que conta - com palavras e acordes dos Beatles - o encontro entre um delicioso inglesinho e uma americana na década de 60. Quando entrei no cinema, a predisposição já era das melhores, mas não foram necessários nem dez minutos de filme para eu já colocá-lo na categoria dos meus prediletos. E asseguro que a cena inicial (abaixo) focada no doce Jude, interpretado por Jim Sturgess, nem tem tanto a ver com isso.


É como se o filme passasse por diversos gêneros ao longo da narrativa, mas sem perder a linha. É um musical, tem momentos de comédia e de drama, toques de video-arte, é uma crônica dos Estados Unidos naquele período e o texto colocado na boca dos personagens tem momentos de excelentes tiradas. Tudo isso mergulhado num denso caldo de referências aos Beatles, que além das músicas propriamente cantadas, aparecem nos nomes dos personagens, situações, falas não-musicadas, etc.

De brinde, os cantores Joe Cocker e Bono Vox (deve ter mais alguém, mas não reconheci) dão uma palhinha em participações especialíssimas. Aliás, grata surpresa! É divertidíssimo ver Bono no papel de um tresloucado e vaidoso escritor psicodélico que conduz a trupe de personagens numa verdadeira "viagem", num ônibus particular que faria inveja à turma do Scooby-Doo.

As interpretações das músicas e o contexto criado para cada uma delas também é muito interessante. Dá vontade de fazer uma engenharia reversa, imaginar os roteiristas encaixando as letras ou bolando sequências para elas. Dana Fuchs -no papel de Sadie, uma cantora que faz a linha Janis Joplin, só que mais feliz e menos (beeeeeeem menos) junkie -quebra tudo com um vozeirão e uma performance que saem diretamente do útero para suas caixas auditivas. As outras vozes também dão toques muito especiais - não sei se são dos próprios atores ou dubladas, mas a candura de Jude é de deixar qualquer um caidinho de amores. Fora o fato de ser um pé-rapado imigrante ilegal, é o genro que toda mãe pediu a deus. Qualquer uma (ou um) daria um green card pro moço fácil, fácil. Eu dava.

Porém, há poréns. Alguns efeitos usados no filme deixam uma clara sensação de que a grana da produção estava curta e o pessoal não soube deixar a pretensão de lado. Há falhas evidentes e primárias - gente errando coreografia, suporte aparecendo numa cena em que as dançarinas deveriam parecer flutuar na água - entre outros que são de gosto duvidoso. Pega bem em algumas cenas em que o efeito parece ser propositalmente artesanal, remetendo a uma idéia meio retrô, mas nem sempre funciona.

Mas nem isso, nem o som cheio de chiado da sala de cinema onde eu fui, estragaram a beleza do filme e o panapaná que deu no meio do meu peito com aqueles borbotões de preciosidades pop. Tive uma grande vontade de ter alguém com quem dividir aquelas visões. Queria estar apaixonada. Ter uma mão para segurar no pouso e na decolagem, num pequeno faz-de-conta que eu me apavoro com essas coisas. Gostaria que ele (quem?) tivesse me convidado para assistir a este filme. Que depois voltássemos para casa nos bolinando entre sorrisos no banco de trás de um táxi. E que a noite terminasse ao som de Across the universe.

terça-feira, fevereiro 12, 2008

rapidinhas

Ontem acordei e dei de cara com uma aranha marrom de quase dez centímetros na parede perto do banheiro. Peguei uma vassoura, porque vi que o meu amor aos aracnídeos parece ter ido longe demais. Mal passava das sete da manhã e meus reflexos não respondiam. Foi ridículo, mas eu venci.

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Assisti O Albergue na noite de ontem. Sim, em casa e sozinha. Não achei nada demais. Cresci vendo carnificina no vídeo-cassete e nas madrugadas do corujão. Nada tão explícito, é verdade. Mas não causou nem susto ou calafrio. Aliás, desde o início do filme aqueles americanos são tão idiotas, mas tão idiotas, que você fica torcendo para que alguém mate eles logo. Elite Hunting neles! O filme não presta. Dormi como um bebê.

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Da série Nossa Língua Portuguesa: que raio de criatura pode usar a palavra "soturno" no contexto de um papo de paquera em meio ao carnaval?

domingo, fevereiro 10, 2008

Cremosinho, delicioso solvete de iógute

Já à venda nos coletivos da cidade.

Ontem à tarde passei no Centro para fazer o orçamento do meu novo braço esquerdo. A coisa já começa interessante, porque o estúdio do meu tatuador fica num prédio comercial repleto de lojas de aluguel de roupas, fantasias e de perucas (para alugar ou não). É tão cheio deste tipo de comércio, que parece ser especializado. E o tatuador ali, de intruso. Acho que sua loja fica ao lado de uma peluqueira.

Cheguei ao estúdio e ele estava tatuando, teria de esperar. Daí sentei, havia outros quatro caras na loja, um deles era o atendente. Eles estavam conversando animadamente sobre o carnaval. Na verdade, um cara contava suas maravilhosas aventuras sexuais como Filho de Gandhy. Supostamente ele falava baixo, mas falava para uma platéia de 4 pessoas (porque aí eu já tinha me incluído) num espacinho 3 x 4. Peguei alguns álbuns para folhear, mas fiquei de ouvido ligado.

O sujeito narrava a transa com uma mulher, digamos, avantajada. Catou a criatura em meio ao carnaval e a "trucidou", mas disse que jamais tinha pego uma daquelas, com um clitóris enorme. Assim mesmo: ele entrava em detalhes muito íntimos do sexo, o que ele fez, o que deixou ela fazer... Só uma palavra ou outra não dava para eu escutar, afinal, tinha que ficar ali com cara de paisagem. Foram uns 40 minutos ouvindo esta história e ele mostrar aos amigos uma lista com nomes e telefones de mulheres de outras cidades que ele tinha 'garrado' durante a folia. Explicou para os outros que o Tapete Branco da Paz é o canal, se você quer esquecer alguém, quer cair na bagaceira... Uma vez entre eles, dá pra pegar mulher pra caralho.

Tinha horas que eu fazia um esforço imenso para não rir ou esboçar qualquer outra reação que desse a entender que eu estava a prestar atenção no que eles falavam. Era ao mesmo tempo constrangedor e engraçado. Daí ele falou em toda a mística dos Filhos de Gandhy, da reação das crianças, com quem tirou fotos e tudo, do investimento em dezenas de colares, que ficaram todos distribuídos em troca de beijos e outros afagos na avenida.

E eu, como falsa baiana, jamais assumi o papel de Nora de Gandhy.

sábado, fevereiro 09, 2008

Insônia Pós-Carnaval

Como dizia minha vózinha, meu organismo é um alfenim. Os antigos, aliás, tinham expressões ótimas, que criam imagens maravilhosas, como "virou arcanfor", que significa evaporou, desapareceu.

Mas eu ia falar do equilíbrio delicado do meu organismo. Depois de passar seis dias trocando noite e dia, quem disse que meu sono volta ao normal? Mesmo tendo que acordar às 7, 8 da manhã, não consigo dormir antes das 2h. É claro que isso me leva a completar alguns minutos de sono dentro do ônibus - modalidade de cochilo, aliás, na qual estou me tornando mestre. Nunca perdi um ponto!

Dá por volta das 23h, começo a pensar em dormir. O primeiro dia foi um inferno, juntando a falta de sono com o calor infernal que faz com que nem a velocidade máxima do ventilador de teto no meu quarto dê jeito. Aí peguei um livro - Noites Sem Fim, Neil Gaiman - avancei até quase a metade. Tudo bem que são quadrinhos, mas eu esperava ler parte de uma história, não três de vez. Vi que não funcionou, então fui para a sala. Cyrano de Bergerác no dvd, já por volta das 2h da manhã. Finalmente, com aquelas falas rápidas e complexas, o cérebro pediu arrego e comecei a cochilar - mas também já tinham se passado quase 40 minutos de filme.

No segundo dia, fenômeno parecido. O lado bom disso é que esta insônia está sendo produtiva. Além da leitura, de-gelei minha geladeira. Uso a bicha faz mais de um ano e nunca tinha degelado 100%, só usava aquele famigerado "degelo seco" e mesmo assim, de uns tempos pra cá, larguei ele de mão. O congelador já parecia uma calota polar. Não imaginei que demoraria tanto para tudo aquilo derreter - o aquecimento global deve estar operando mais rápido sobre as geleiras da terra. Era por volta de 1h da manhã, lá fora todas as janelas apagadas. O condomínio era uma rara escuridão e eu fazendo barulho na cozinha. Às vezes eu realmente me sinto estranha.

Ontem pensei de regularizar o sono. Sexta-feira deveria ser low-profile. Fui ao teatro ver um espetáculo de dança que poderia ter sido disparado do Enola Gay. Apenas meia-hora de duração e eu dei umas cochiladas. "Oba!Hoje eu durmo cedo...", imaginei. Só que as coisas não são tão simples assim e eu envergo facilmente às tentações. Então, chegando em casa, entrei na internet e encontrei amigos online. Falamos das coisas que estão em cartaz no cinema e... acabei pegando uma sessão de 0:20 de Sweeney Todd, o novo do Tim Burton.

Uma rapidinha sobre o filme

O trio Tim Burton, Johnny Depp e Helena Bonham-Carter simplesmente bota para foder. Sempre. Não sei onde estava com a cabeça quando imaginei que fosse um filme sangrento, porém leve e engraçado. Nada disso, a história é barra-pesada, apesar do alto grau de ironia. As partes musicais são devidamente dramáticas e é difícil imaginar que haja alguma outra "ópera cinematográfica" tão sombria quanto esta. A marca do estilo Burton está lá, mas desta vez sem o subtexto do bizarro-bonzinho. Na verdade, rola um melodrama, com o barbeiro com sede de vingança, sua nova amiga cega de paixão por ele e os algozes de posse de sua filha, única remanescência de sua vida inocente e que foi esfacelada.

Em entrevistas anteriores ao lançamento do filme, Burton falava da estética do sangue que jorra em filmes B, vermelho-vivo e irreal. Ele vai fundo nessa história e os esguichos poderiam tinturar roupas de toda Londres.

A fotografia gótica, que beira o preto-e-branco, também está lá. Curioso notar que, nessas cenas, as mínimas referências a algo mais colorido evocam tons de sangue, como marrons e avermelhados. E Tim Burton mostra que não é somente com a atmosfera doom que ele sabe brincar. Nas cenas em que Mrs. Lovett imagina um lindo futuro ao lado de seu querido barbeiro, a tela explode em cores felizes, invertendo completamente a lógica de que nós sonhamos em PB.

Lindo e cruel.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

só mais um...

Tropeçando anônima pela manhã, estranhos queriam me ajudar a chegar em casa, como se eu não soubesse o caminho. Eu estava evidentemente em outra dimensão.
Nos tênis usados na pipoca, hoje encontrei substâncias que devem ter vindo de outras galáxias.
Continuo a duvidar da capacidade humana de produzir aquele tipo de material.
No meu cotovelo, seiva em cristais tenta selar o flanco aberto em meio à euforia.
Taí: há beleza que se ver neste tal de Carnaval.

Seu Jairo - um capítulo à parte

Você pode imaginar que tipo de empresa contrata um motorista meio brôco, desorientado e que não conhece bem a cidade para fazer transfer durante o Carnaval para um grupo de pessoas que mora em lugares distantes entre si? Pois é, fizeram isso com a nossa equipe.

Para quem não sabe, Salvador fica toda alterada, congestionada e louca por causa dos circuitos carnavalescos, que isolam justamente alguns setores cruciais e de fácil acesso da cidade - Barra e Centro. Assim, o uso de vias alternativas é mais que obrigatório e conhecer dobras espaciais obscuras é um pré-requisito essencial para se locomover com rapidez nestes trechos. Ainda mais se é para pegar gente no Rio Vermelho, Luís Anselmo (Brotas) e 2 de Julho (Centro) justamente para conduzir até a Barra.

Seu Jairo, carinhosa(?)mente apelidado de 'Seu Jaigo', parece ter comprado a carteira em Alagoinhas. Anda pisando muito e freando bruscamente, passa voando nos quebra-molas e nunca - eu disse NUNCA - sabe que caminho pegar. Chamava o Bonocô de Vale de Nazaré e Vasco da Gama de Ogunjá. Também tinha o hábito de diminuir muito - ou até mesmo parar - em bifurcações de pistas de alta velocidade para ler as placas indicando as direções.

Se você não acha que isso é grave, eu, às 5h da manhã, sonolenta e ligeiramente embriagada, discordo e procurava desesperadamente pelo cinto de segurança, estando sentada no banco de trás do carro. Foram quatro dias de medo e delírio no trânsito.

Eu tenho absoluta certeza de que Gabriela deixou esta criatura escapar de alguma de suas páginas, que então se auto-enviou por e-mail para o setor de RH.

Ms. Campbell, may I ask you a few questions?

A intenção era fazer um diário de bordo completo, mas tem dias que realmente não estou boa para cumprir promessas. Sendo Carnaval, então... Além do mais, estava trabalhando de verdade, dormindo pouco, essas coisas. O terceiro dia de trabalho foi esquisitão e o quarto uma pauleira sem tamanho. O quarto dia, aliás, me graduou em jornalismo pela segunda vez, quando me vi pegando Niz@n_Gu@naes pelo braço e dizendo "eu preciso falar com a Naomi". Sério. Depois repeti o gesto com outro cara - era o diretor de mkt do Br@d_sco.

Como podem imaginar, o tal último dia de trabalho foi uma loucura. A primeira peripécia começou quando eu estava entrevistando o Z_éuBritto e fui arrastada por uma horda alucinada que antecipava a chegada de alguma celebridade. Quando virei e vi, eram Lázaro Ramos e Taís Araújo. Como conheço Lázaro por causa do Vila, nos cumprimentamos e eu disse que queria falar com ele passada aquela confusão dos diabos. Só que aí ele foi para a área vip e a produção não liberava a entrada de imprensa de jeito nenhum. Devo ter passado quase 1 hora na espera, até que ele precisou sair dali por um instante e tive a chance de explicar que não me deixavam passar. Mais uns minutos no aguardo, na volta, Lázaro me bota pra dentro da área vip com ele. Pronto, garantia uma exclusiva! Só que não foi publicada na mídia oficial por causa do perfil do caderno que eu estava cobrindo, então vai aqui, onde eu falo (quase) tudo o que quiser:

P: Lázaro, você agora aparece em propaganda da Oi, de condomínio de luxo, tava plotado inteiro na fachada do Iguatemi... Você acha que o olhar da publicidade está mudando com relação ao negro ou é uma coisa localizada aqui, porque você é um baiano ilustre?

LR: Eu acho que a Bahia está um passo à frente neste sentido, mas não acho que seja um fenômeno isolado. Isto é o sinal do começo da compreensão do mercado publicitário da necessidade de dialogar com público negro, que também é consumidor. A discussão aqui já está mais avançada, mas é uma tendência nacional. Torço para que aconteça, porque é algo que mexe com a auto-estima do público negro, que passa a se sentir considerado.

P: Você fala em avanço na Bahia, mas no momento há uma cobrança das entidades negras com relação ao extermínio de jovens, em virtude de muitos casos terem ocorrido no último mês. Você tem acompanhado isso na mídia?

LR: Não tenho acompanhado isso, porque tenho estado bem pouco na Bahia, mas soube do caso do rapaz do Picolino - que parece que estava até selecionado para ir pro Cirque du Soleil - e isso me deixou assustado.

P: Também tratando da Bahia, você deve estar sabendo da celeuma do ano passado em torno da Secretaria de Cultura. Você percebe mudanças?

LR: Como disse, tenho estado muito pouco por aqui e não tenho bem como avaliar. É um assunto sério, do dia-a-dia da população. Além disso, tenho uma relação pessoal com Marcio Meirelles (Secretário). Ele me deu a formação artística, com o trabalho no Bando, e acredito que suas intenções são as melhores.

P: E o Carnaval, você chegou que dia? Vai ficar só no camarote?

LR: Cheguei hoje (segunda), aproveitando uma folga nas gravações até amanhã. Na verdade, vim a Salvador para gravar um novo quadro da segunda temporada de Espelho*, que deve estrear em maio no Canal Brasil. Aqui, a primeira temporada vai começar a ser exibida pela TV Salvador, a partir de abril e segue direto para a segunda. Esse novo quadro que estou gravando é com Vanda Machado, que vai contando histórias de lendas e mitos africanos. Num momento de folga, vim dar uma passada aqui no camarote.

Voltando ao trabalho insano, enquanto eu digitava este material na lan-house-berçário que era reservada à nossa equipe, eis que uma briguinha tola entre dois ébrios imberbes resulta num copo de whisky atirado contra mim e o teclado. É assim que o destino se vinga das pessoas.

Pouco mais tarde, zanzando pelo camarote na minha lida de celebrity patrol, saio do banheiro e me deparo com a escada isolada por uma barreira de seguranças. Sem entender bem, pergunto quem estava no recinto. Era ela, a bela Naomi Campbell. Olhei para a muralha humana e os detidos atrás dela. Entre eles, o restante da minha equipe. Eu era a única ativa na zona sitiada. E agora, José? Tateei por um momento, subi procurando a área vip onde ela deveria estar. Diante da entrada, mais hesitação. Sentia que era um peixe grande demais para eu puxar a linha, mas era a minha chance, era o meu dever naquele momento. Tinha de tomar uma atitude. Algo dentro de mim disse "reaja, bicha!" e lá fui eu. Os seguranças e o door desta área já me conheciam e deixaram passar. Lá dentro, outra barreira de guarda-costas, mas eu estava a um metro do meu alvo. Eu e alguns outros vips curiosos.

Foi aqui que puxei N-zan, tentei falar com as pessoas ao redor e nada. Chegaram os fotógrafos, mais aperto, mais tensão. Será que ela ia tacar o celular na cabeça de alguém? Diziam não nos deixar chegar perto porque ela estava fumando e não gosta de ser fotografada fumando. Até que o acesso dos fotógrafos foi parcialmente liberado, formando uma janelinha entre os corpos dos seguranças - tinha um que era tão grande, mas tão grande, que bloqueava a gente apenas girando sutilmente, sem nem olhar para nossas caras miúdas e suplicantes.

Devo ter passado uma outra hora lá, me espremendo contra os homens de preto e tentando chegar até a top através de alguma outra pessoa. A tipa é melindrosa, nunca se sabe, né? Até que lá pras tantas, ela mesma resolve furar o bloqueio dos seguranças para falar com N-zan, que estava fora do cercadinho, e eu começo a me esguelar: "Ms Campbell, may I ask you a few questions about Carnaval in Bahia?". "About what????" sim, ela estava me ouvindo.

Consegui então me aproximar cautelosamente e lhe perguntar como havia se sentido estando no maior bairro negro de Salvador - ela foi ao Curuzu e saiu no Ilê Aiyê - então senti que ela ficou doce, dizendo ter estado muito emocionada entre seu povo, que nunca tinha vivido uma experiência daquelas, que foi muito bonito e forte. E dizendo isso, seus cabelos perfumados passaram perto de meu rosto. A pantera das passarelas, com seus olhos dourados, contrariou toda a fama de má foi amável com todos. E eu me sentia ao mesmo tempo encantada, poderosa e louca. Saí pronta para demolir o mundo - mas não havia ninguém para ver.

domingo, fevereiro 03, 2008

Dia dois

Estou aqui direto do terceiro dia, mas falando do anterior. Cansaço acumulado. É foda passar a noite rodando para baixo e para cima (literalmente, já que o camarote tem 3 andares, fora a sala de imprensa que é num sub-solinho) num calor da porra. Sorte que agora climatizaram os banheiros e dá um alívio quando é preciso aliviar a bexiga. Ontem encheu para caráleo, mas deu pouco vip. Parece que a festa de Iemanjá (2 de fevereiro), no Rio Vermelho, dividiu o público.

In fact, acho que nunca senti tanta falta do conhecimento enciclopédico da revista Caras, porque dava pra sacar que rolaram vários poderosos - empresários e societys -mas eu não sabia ao certo quem eram os caras. Se pintasse o Bruno Chateaubriand, por exemplo, eu saberia quem era. Por causa da Caras, não por nada relevante... Enfim, podemos dizer que neste sábado deu uma 'esfarofada'. Gianechinni e Cláudia "ex-Babado Novo" Leite provocaram tumulto na chegada. Jornalistas, fotógrafos e grande público se espremendo uns contra os outros e contra a muralha de seguranças de cada um deles. Jamais imaginei um dia me foder toda para arrancar um olhar de atenção e uma palavrinha da Claudinha. Foi então que caiu a ficha de que virei uma proletária. Para resguardar um pouco de meu orgulho, pelo menos foi missão cumprida. 100% profissa.

O grande acontecimento da noite, porém, foi trombar com o Malvino Salvador na fila do banheiro - abençoado seja o inventor do banheiro unissex! Sem bloquinho na mão, fiz a linha blasé e puxei conversa. Simpático e gostoso, ele deu trela e trocamos umas palavrinhas sobre o carnaval. Muito bonito, mas com um quê de gente de verdade - o Giane, por exemplo, parece protegido por uma aura meio alienígena e intocável, mesmo sendo um cara divertido, como dizem.

Que mais? Tivemos de esperar muito pelo carro do jornal, por isso deu para tomar umas doses e curtir um pouco a visão de cima da folia. Em menos de meia-hora de janela, assisti a muita pancadaria. Me senti mal e hipócrita do alto da minha torre de marfim. O mais irônico é que, enquanto o couro comia no asfalto, com atos de evidente covardia e barbaridade, o cantor do Psirico, de cima do trio, se dirigia a alguém no camarote ao lado dizendo "Olha só que carinho massa!"

Ai, se tu soubesses como sou tão carinhoso...

sábado, fevereiro 02, 2008

Primeiro Dia - sexta

Já trabalhou no Carnaval de Salvador, nêga? Se pensou em "loucura", é esse o espírito mesmo. Haja pique, disposição, jogo de cintura, paciência e etc. Mas vamos lá. Este é meu primeiro ano trabalhando na cobertura de um camarote. Pense num lugar apinhado de celebridades e outras gentes importantes de fato. É como abrir a revista Caras e pular para dentro dela. Ao meu lado, trocentos jornalistas e fotógrafos de tudo que é veículo importante desse país. Ao contrário do que diz o estereótipo do baiano, aqui trabalha-se. E muito.

Lá dentro, obviamente tinha que rolar umas peripécias, como picar a cabeça na quina de um telão de plasma. Ou ficar cercando alguma possível celebridade para tentar ler seu nome na credencial. Ou ainda, deixar pingar shoyo com wasabi na ponta do nariz. Trash mesmo foi ter todo trabalho da noite deletado por algum filho da puta maldoso e então ter de sentar - 4h da manhã - para reescrever todo o texto.

Acho que quem bem definiu o que é o Expre$so_22-2 foi Márcio Meirelles, homem de teatro, hoje no papel de Secretário de Cultura da Bahia. Disse que é um fenômeno, um objeto de fascínio e desejo para muitas pessoas, pois muitos querem estar ali, onde se reúne uma elite intelectual, econômica e de um determinado padrão estético. É também um catalisador de realizações, pois coloca frente a frente artistas, produtores e possíveis patrocinadores de seus sonhos. Acho que é um bom resumo da ópera.

Uma vez lá dentro, você até se acostuma às caras famosas e gente belíssima. Pensei que ia perder a compostura diante de alguns rostos cobiçados, mas é tanta ânsia profissional, que a coisa se dilui. Juro e sem esnobação. Isso sem contar os poderosos e lindos quase anônimos, gente de quem você vê emanar o poder, mas cujo rosto é desconhecido. "Você é o famoso Quem?"

Agora, algumas palavras sobre os entrevistados da noite:

Regina Casé: Ao contrário do que dizem por aí, foi uma simpatia. Respondeu sorridente, falou sério e deu uma declaração interessante, sem perder o clima de Carnaval. Acho que ela vira bicho é quando o assédio não é de gente trabalhando.

Caetano Veloso: Ao contrário do que dizem por aí, não foi muito simpático. Acho que queria curtir a folia e tava meio de saco cheio de repórter. Apesar de ser prata da casa, é quem ele é e por isso andava pra lá e pra cá cercado da imprensa.

Cauã Reymond e Bruno Gagliasso: Com seus rostos impecáveis, foram super simpáticos e solícitos. Assediadíssimos por fotógrafos e repórteres, não sei como eles dão conta. Cauã parecia meio atordoado, enquanto Bruno preferiu lançar mão de um espírito mais malandro.

Marcelo Taz: Solícito e adorável, deu uma das declarações mais bonitas da noite.

Nizan Guanaes: Aula compacta de marketing.

Prta_G-il: A herdeira me surpreendeu com sua simpatia, articulação e pela bela e interessante trupe que a rodeava.

Marcelo Serrado: Esse gosta da folia. Taí um sujeito a quem os anos fizeram bem - tá bonitão.