sábado, outubro 27, 2007

Zoologico Twice

MAIS UM POST REDIGIDO NO iMAC SEM CEDILHA E SEM ACENTOS

Era tarde. Depois de zanzar-girar por horas dentro de um onibus para a puta-que-o-pariu, o que foi perfeitamente preenchido e nada enfadonho gracas a doce e adoravel companhia de Dani Bracchi, chegamos ao Jardim Zoologico de Sao Paulo. Quer dizer, chegamos ao ponto horrivelmente longe, credito a informacao errada do cobrador do onibus, q fez questao de nos fazer de turistas otarias, enquanto viamos passar a entrada do parque. (acho q perdemos o tempo equivalente a visitacao de dois bichos)

Pagamos as entradas e como criancas, de mapa em punho, fomos tracar nossa estrategia para ver as maiores atracoes: leoes, tigres, girafa, elefante, rinoceronte, urso... Enfim, os animais-deuses. O primeiro deles a nos surpreender foi o rinoceronte branco, que ao se mexer arrancou um gritinho de Dani, que ate entao estava jurando que o bicho era uma escultura. Nao, eles sao de verdade. Estamos aqui por isso! Fomos caminhando e resgatando o olhar infantil, boquiaberto e desnudo de discoverychannels da vida. Os bichos ali, de carne-osso-pelos e penas nos causavam grande espanto e contentamento. Fiquei maravilhada com a girafa e seus trilhoes de metros de pernas e pescoco, o olhar languido e a lingua estreita e longa que poderia lamber seu proprio ouvido.

No geral, os abrigos e os bichos pareceram bem tratados, mas nao deixamos de perceber um ou outro estressado - especialmente os solitarios, como o elefante, o tigre e a alpaca (que parecia estar mucholoka). Enquanto passeava, este cerebro que nao para quieto, remoia a ideia de estar contribuindo para a atrocidade de tirar os bichos de seus habitats, ao mesmo tempo em que pensava que ha uma nobre funcao nos jardins zoologicos pelo mundo inteiro de permitir que as pessoas entrem em contato com as maravilhas animais de especies de tudo que e canto. Fico com a segunda opcao, desde que haja dignidade.

A noite foi a vez de outro zoologico. Nao que eu esperasse isso, fui pega de surpresa. Fomos ao Clash Club, onde supostamente iria rolar techno. Ai, que saudade do techno! Bate-estaca urbano, de estalar as juntas de tanto dancar. Parece que escolhemos a noite errada. Eu devia ter suspeitado dessa treita de "mulher nao paga ate 01h". Bando de eletro-mauricinhos e ciber-periguetes. Rituais de acasalamento esquisitissimos. Gaydar ligado detectando varias unidades nebulosas, que olhavam bundas de meninas por protocolo e beijavam bocas femininas porque parece ser o certo a fazer. Sujeitos de camisa listrada de botao pagando uma de modernetes. Pulover com golinha para fora. Um pavao fazendo a danca do rinoceronte. La pras tantas, me peguei como o Rei Leao a espreita do Bambi - o cervo bebe indefeso. Me pareceu completamente errado na zoologia Disney e entendi que talvez ja fosse a hora de ir embora.

Ah, e o techno? Em determinada hora da noite mais parecia Eurodance. Triste. O tal dj parecia se divertir sozinho com as pick-ups. Teve um momento em que eu jurava estar tentando me divertir, mas todos os meus sentidos (os cinco e aqueles outros dos quais o Lazaro Ramos falou no Fantastico) berravam pra mim: NAO VAI ROLAR. Depois que mudou de dj, a esperanca se renovou e houve belos momentos de pista. Entre mortos e feridos, salvaram-se os bebados. Mentira, eu me salvei tambem - praticamente sem escoriacoes.

sexta-feira, outubro 26, 2007

Sao Paulo Twice

Pes em terra na cidade grande, a asiedade a beira da esteira. Uma mala que chega molhada e da a certeza de que vc tem um pingo de azar, ja que nao eh impermeavel e todas as suas roupas para os proximos sete dias estao ali dentro. Hmpf, eh torcer para que nao piore. 2h30 depois chego ao meu destino, depois de usar quatro meios de transporte diferente em questao de poucas horas. deu ateh para cochilar no onibus, entre uma e oura olhadela para o caudaloso e preto Tiete.

Dois dias e algumas programacoes depois, sinto-me uma cidada soteropaulistana: tenho celular local e meu proprio bilhete unico de metro e onibus. Ando por ai com certa facilidade depois de pegar as dezenas de instrucoes com os ja adaptados. Mesmo assim, na maior parte do tempo, pareco uma paulista meio tonta, ja que alem do meu sotaque, nada indica que sou de fora. Passo bem por local somente ate abrir a boca.

Ir para uma cidade onde estao reunidos quase todos os seus amigos eh uma coisa otima e estranha. Otimo por todas as aventuras que vem com os reencontros. Estranha, porque em alguns momentos eh quase como nao ter saido de casa, perder um pouco da aventura que eh fazer uma viagem e poder se dar ao luxo de trocar, esquecer ou esculhambar sua identidade. Os mesmos olhos baianos espreitam pelas esquinas das ruas da boemia. Delicioso se bater com os sorrisos conhecidos, mas isso gera sempre uma redoma, uma carapaca que afasta em boa parte a aventura pelos desconhecidos.

Lah vem mais uma noite. O que ela dira? Que surpresas trara? Parto com mais tres ou quatro baianos em direcao aos bares e ao som. Sexta-feira sempre eh uma promessa.

Cumpra-se.

domingo, outubro 21, 2007

Uma outra missão diplomática via Nave

Disse meu horóscopo que meu magnetismo sexual andava em alta. Passos largos pelas ruas, pés metidos em coturnos, saia cinza de colegial. Qual trabalhador da noite baiana não mexe com uma criatura dessas? Comentários, risinhos, tratamento mais assustador do que quase lisonjeiro. Até a abordagem de um grupo de adolescentes vendedoras de amendoim apareceu pra querer passar a mão e me chamar de gostosa. Eu disse vendedorAs.

Sair à noite dá sempre uma resenha. Seja pelas peripécias infantilizadas de uma bebedeira homérica, seja por estar sóbria demais para não deixar nenhum pitoresco detalhe da vida passar. Magnetismo sexual, sei. Só pode ser porque eu crio um campo ao meu redor. Devo ser alguma encarnação canhestra de algum tipo de deusa do amor. Esfregue um pouquinho o meu braço e você vai saber do que estou falando. Deixe a cigana Sara pra lá, economize tempo e dinheiro, saia comigo por aí, que o amor demora apenas algumas horas para aparecer. Não precisa nem ter fé, o melhor é isso. Funciona, simples assim.

Em poucas horas de festa, hordas se agarram ao meu redor. São rituais que me alimentam, começo a entender assim e me alegrar por isso. Deuses não têm sexo, cara. Uma ou outra cultura pinta assim e torna a mitologia divertida. E sempre tem algum amigo por perto para se deixar levar na onda quente dos desejos afetados. Basta uma esfregadinha qualquer - não precisa ser no braço, nem mesmo intencional - e o tal do amor pega a pessoa e vai embalando na pista. A coisa esquenta.

Pus os olhos no Campeão. Sujeito de olhos tristes, com cara de homem que não é daqui. Paradão, ouvindo muito sem dançar. Talvez um daqueles tipos que só deixa a música entrar quando o álcool lhe afrouxa as portas. A distância foi diminuindo, por vontade própria ou pela vontade da pista. Nenhum movimento concreto. Teria sido uma longa troca de olhares? Então ele começou a passar a mão no rosto e coçar a barba. Uma urticária tremenda. Poderia ser alguma reação alérgica ou a coragem pedindo passagem, o desejo de tomar alguma atitude. Se coçou, se coçou, se coçou... Passou uma eternidade e nenhum evento.

Eu acho que é gay, cochichou minha acompanhante. Não, não era. Se fosse, teria vindo em minha direção. Eu sei dessas coisas. São os meus maiores devotos - e os que recebem mais graças também.

A aventura terminou com uma fria bênção da Rainha da Inglaterra. British winds blew shortly in my direction.

sexta-feira, outubro 05, 2007

Kiss the toad, babe

Outro dia, uma amiga minha comentou que homem é igual a orelhão: no raio de um quilômetro, se você acha um que preste, já está ocupado. A analogia não poderia ser mais perfeita. A cidade anda apinhada de babacas solteiros, de mente tacanha, que têm uma compreensão medieval do papel social da mulher e de uma relação a dois.

Vez por outra encontro algum sujeito que me encanta sem nem querer. Em coisa de duas horas de conversa, o senso de humor inteligente me cativa, a troca de idéias, o interesse mútuo por um universo semelhante... Um bom papo delineia algum esboço de soulmate, que não demora muito para ser esfacelado pela menção da digníssima namorada/esposa/dona-e-proprietária do material. O fato se repete com uma frequência de piada em sitcom. Só mesmo encarando com bom humor, porque se for para franzir a testa, a fortuna que precisarei gastar com cremes anti-sinais e peeling poderia ser melhor utilizada com a manutenção de um gigolô bem nutrido.

Não gosto de entrar numa de que "toda mulher interessante que eu conheço está sozinha", discurso repetido por quase todo amigo gay, numa tentativa simpática de segurar a barra e levantar a cachorra morta, porque o universo definitivamente não é pautado por regras tão claras assim. Além do mais, isso seria uma grandessíssema injustiça com as garotas fantásticas que tiveram a felicidade de achar uma agulha num palheiro - ou seja, as minhas amigas. Mas que tem muita mocréia tapada e sem auto-estima namorando por aí, aaaaaaah! Isso tem demais!

Fato é que pouco a pouco vou esbarrando com gente interessante e descobrindo que Salvador, apesar de ser um ovo - onde você fatalmente vai acabar dormindo com aquele cara que parecia o supra-sumo inatingível e se revela um boçal de proporções bíblica - Salvador ainda pode supreender. Há bons partidos* por aí, debaixo de uma pedra, atrás de um livro, na frente de um computador, dentro de uma gruta, no fundo da baía, sei lá... Descobrindo um, é só entrar na fila e esperar que o atual namoro dure no máximo mais 6 meses e não provoque grandes estragos físicos e emocionais. Sim, porque nesse período, se dá alguma merda, é possível que o seu gatinho seja transmutado num bucho insensível.

Pensando bem, deixe essa fila pra lá. Se jogue na noite e beba muito. Muito mesmo! Acha que está suficiente? Beba mais. Beba até seu fígado virar foi gras. Parece que a fila do transplante anda mais rápido.

* diga se essa expressão não parece uma versão moderna e caça-níqueis do príncipe encantado?