segunda-feira, julho 28, 2008

Um revolucionário de quatro bocas

Ganhei um fogão da mãe de uma amiga. Na manhã do último sábado, aportou em minha casa e antes que eu me desse conta, ele estava botando regras em minha vida. Ansiosíssima, Fernanda, minha nova roomate, mulher completa que sabe cozinhar, me convocou a pôr as mãos a obra para nossa cozinha ganhar ares de casa de verdade.

O primeiro desafio foi casar o novo morador com os outros residentes da cozinha. Me dei conta de que jamais tinha planejado colocar aqui dentro o conjunto fogão-botijão. Resultado: a geladeira, o armário e o fogão não se entenderam bem. Para evitar arrastar para lá e para cá tudo que havia dentro da cozinha, desenhamos no papel uma planta e recortamos quadradinhos de papel proporcionais - com direito a dobras para representar abertura das respectivas portas - para simular os encaixes. Não deu certo. Não cabia. A solução foi mover o armário de louça para o quartinho, onde fica meu escritório.

Ironia do dia #1
Enquanto nossos miolos fritavam mais do que nas fases avançadas de Tetris, o servente do prédio bate à porta perguntando se temos lixo para pôr pra fora. Não, seu Carlos, não temos nada. Muito obrigada.

O processo de arrumar o quartinho para receber o armário implicou um verdadeiro inventário da vida. Precisei arrumar a estante de metal, que já vai fazer aniversário de que jamais foi organizada esperando uma pintura que nunca chega. Precisei arrumar caixas. Precisei arrumar espaço. De redescobertas e desapegos, o espaço surgiu como que por milagre. Entre plásticos e papéis que separamos para reciclagem, juntamos uma caixa de microondas bastante robusta. Reciclável, mas ainda assim era lixo.

Ironia do dia #2
Isabela, a doadora do fogão, me liga em resposta às chamadas que fiz pela manhã. Ligue para combinar com sua mãe de pegar o fogão lá hoje, mas já deu tudo certo.

Cogitamos furar a parede para guardar o botijão no quartinho. Tivemos de desarrumar todo o armário de louça, manobrar móveis e eletrodomésticos grandes pela cozinha. Em breve vamos fazer um armário embutido e nos desfazer do outro. Tudo, tudo por causa de um fogão.

A função da chegada do fogão começou por volta das 8h30 e só foi terminar por volta das 21h. Ao final, meu escritório estava arrumado, cozinha limpa - incluindo geladeira! - e organizada, sala limpa, com estante ordenada e antenas instaladas na TV e no aparelho de som. Banheiro lavado e escovado. Somente nossos quartos pareciam New Orleans após o beijo de Katrina.

Fernanda ainda fugiu, mas eu dormi no meu próprio quarto, que se encontra em estado ainda mais lastimável. É sintomático que depois de um exaustivo dia de faxina e mudanças a pessoa deposite o corpo para repousar no cômodo mais caótico da casa. Afinal, tudo tem seu tempo.

quinta-feira, julho 24, 2008

la vie sans rose

Ao chegar na sala, me deparo com uma pilha de pastas sobre minha mesa. Por baixo, era a quinta vez que eu olhava, examinava e assinava aqueles documentos para que andasse o pagamento que eles pediam. Dessa vez, pedacinhos de papel marcavam folhas onde, mais uma vez, deveria ir o meu autógrafo.

Voltei do almoço e antes de qualquer coisa, coloco um cd para rolar. Calmamente abro cada uma das pastas. Novamente, o ritual de um exame breve para ter alguma certeza do que estava fazendo. Pela primeira vez na vida, assinar errado pode dar merda. Até hoje, praticamente tudo que assinei foi praticamente sem pensar duas vezes, porque o pedido e a orientação partiam de alguém de confiança.

Ao término de umas cinco músicas, pastas fechadas e 30 pedacinhos de papel na minha frente.