quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Pêlos, meu deus!

Então que assisti A Pele, com Nicole Kidman e Robert Downey Jr. O filme é fodão e sensível, mas impossível não fazer piada com ele. É um crossover de As Horas e Starwars. Senhoras e senhores, a australiana mais bem paga de Hollywood mantém um caso extra-conjugal com um Wookie. Difícil não rir disso.

Apesar das gracinhas, na minha opinião, sobram qualidades no filme. Para começar, é um filme cheio de clima... A direção consegue provocar efeitos fantásticos olhando através de buracos, com ambientes escuros e com a entrada precisa da trilha sonora. Não pude deixar de pensar que, caso o diretor do patético O Albergue tivesse o mesmo talento, seria capaz de fazer um filme bem assustador.

A Pele tem uma história estranha, com atmosfera ao mesmo tempo sinistra, bizarra e sensual. Há coisas bem inacreditáveis ali, mas o espectador fica grudado na tela para ver até onde vai a delicada relação entre a deslocada esposa dedicada e a charmosa aberração de circo. O filme é uma ficção inspirada na vida da fotógrafa americana Diane Arbus, que de opaca assistente do marido em fotos publicitárias, se tornou uma artista reconhecida nos USA dos anos 50/60.

Robert Downey Jr, coberto dos pés à cabeça da pelagem que dá origem ao título original (Fur: An Imaginary Portrait of Diane Arbus), consegue ultrapassar de maneira convincente a aparência medonha de Lionel Sweeney, tornando-o sedutor. Nicole Kidman, por sua vez, calça os sapatos de Diane e parece estar se especializando em papéis de pessoas deslocadas do senso comum da realidade. Será a ruivinha uma criatura estranha também?

Diane é uma mulher sutilmente atormentada por sua visão de mundo incomum, que não se encaixa na vida tradicional de mãe-de-família que acabou trilhando. Através da relação com o peludo Lionel, ela entra em contato com um mundo onde as pessoas são fisicamente tão pouco convencionais como sua mente - ela então se sente à vontade entre outros freaks.

O filme toca em algumas questões sobre o universo feminino, como a diferença entre os caminhos de carreira e família e a manifestação da sexualidade. Afinal de contas, porque é possível acreditar que aquela mulher se sente mais estimulada pelo vizinho wookie de fala macia do que pelo marido engomadinho?

A narrativa entrelaça um novo amadurecimento de Diane - o desenvolvimento de seu olhar como fotógrafa - com a relação e o tempo de vida que resta ao seu querido vizinho. São duas horas de estranhamento e poesia, acompanhando o despertar de uma mulher multifacetada e muito interessante.

Recomendo aos rapazes que se inspirem nas atitudes e gestos de Lionel, mas por favor, não deixem de se livrar dos pêlos inconvenientes.