quinta-feira, abril 27, 2006

Educação e cativeiro

Parada na porta daquele colégio público fiquei observando seu discurso agressivo e pensando como alguém - principalmente alguém jovem - poderia ter algum estímulo a entrar ali. Grades na cor cinza escura, de barras grossas, pontas com flechas douradas rebuscadas, pareciam uma defesa medieval. Dois portões de grades até entrar de fato na escola. Um presídio parece ser uma coisa bem pouco diferente deste quadro. Tudo muito encardido, o nome num letreiro vazado acima da entrada, com um imenso galho de árvore ocultando a grafia. Passo por ele diariamente, mas nunca tinha visto de fato. Somente hoje, que fui parar ali intencionalmente é que fiquei meio impressionada como a arquitetura de um prédio tem tanto a declarar.

E pensar que este é um dos melhores da cidade, tão bom que é frequentado por alunos de classe média - aquela porção um pouco mais assombrada pelo fantasma da queda do poder aquisitivo - e não por quem é realmente fudido de grana. Também, colégio público em bairro nobre tem que ter uma "seleção". A essa altura do campeonato ainda tem quem acredite que é natural.

keywords: evasão escolar, repetência,analfabetismo.

V de Vingança

Ontem vi V. Não tinha grandes nem pequenas expectativas, mas queria muito ver. Isso é bom, porque dá uma certa isenção para absorver o filme. Outra coisa que é bom ressaltar é que eu não lembrava nada na história, não sei se pelo fato de ter lido há uns 9 anos, se por uma dose de falta de interesse por tramas políticas ou simplesmente por causa de um déficit cognitivo qualquer. Enfim, não vou ficar naquela velha disputa entre o original e a adaptação, que acho sempre meio esquizofrênica.

O filme demora um pouco a engatar e uns clichês de trilha sonora para criar certos climas aborrecem um pouco, mas Hugo Weaving sob a máscara de Codinome V cativa desde o primeiro instante. Já havia lido comentários sobre a qualidade de seu trabalho a despeito da falta de expressão facial, mas é mesmo surpreendente, porque seus movimentos são sutis e nem de longe lembram aquele exagero Changeman de braços e cabeças balançantes - o que seria fácil pensar. O acento na voz dá a pontuação correta nas intenções do elegante e vingativo personagem. Impossível não ficar ao lado de um terrorista tão poderoso e cheio de charme.

Poderia ficar aqui escrevendo por horas sobre o desempenho de outros destaques do elenco, como Natalie Portman - cuja personagem passa de uma coragem frágil a ativista destemida pelo batismo da tortura - e Stephen Rea - com sua expressão atormentada e melancólica. Só por estas interpretações, o filme já vale a pena.

Pois bem, quando o filme deslancha e começam a aparecer mais suas idéias, é muito bom. Dá até para relevar certos maneirismos holliwoodianos irritantes, como a criação de um romancezinho, desbunde de efeitos especiais nas lutas e didatismo na construção do herói. O que fica marcante mesmo são as noções sobre o que pode causar uma mobilização coletiva, o questionamento do poder do Estado em dar ou tirar a paz dos cidadãos (o papel da mídia aí dentro) e a inquietante afirmação de que "a violência pode ser usada para o bem". Muito interessante pensar sobre esses assuntos no atual momento político mundial.

Uma boa estréia para o menino James McTeigue, apadrinhado dos pirotécnicos irmãos Wachowski, porém, a assinatura ainda não é perceptível. A direção não se destaca, exceto pelas cenas finais, que são belíssimas. Talvez seja só uma questão de tempo.

sexta-feira, abril 21, 2006

Um novo começo

as coisas por aqui já estão mudando.