quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Ms. Campbell, may I ask you a few questions?

A intenção era fazer um diário de bordo completo, mas tem dias que realmente não estou boa para cumprir promessas. Sendo Carnaval, então... Além do mais, estava trabalhando de verdade, dormindo pouco, essas coisas. O terceiro dia de trabalho foi esquisitão e o quarto uma pauleira sem tamanho. O quarto dia, aliás, me graduou em jornalismo pela segunda vez, quando me vi pegando Niz@n_Gu@naes pelo braço e dizendo "eu preciso falar com a Naomi". Sério. Depois repeti o gesto com outro cara - era o diretor de mkt do Br@d_sco.

Como podem imaginar, o tal último dia de trabalho foi uma loucura. A primeira peripécia começou quando eu estava entrevistando o Z_éuBritto e fui arrastada por uma horda alucinada que antecipava a chegada de alguma celebridade. Quando virei e vi, eram Lázaro Ramos e Taís Araújo. Como conheço Lázaro por causa do Vila, nos cumprimentamos e eu disse que queria falar com ele passada aquela confusão dos diabos. Só que aí ele foi para a área vip e a produção não liberava a entrada de imprensa de jeito nenhum. Devo ter passado quase 1 hora na espera, até que ele precisou sair dali por um instante e tive a chance de explicar que não me deixavam passar. Mais uns minutos no aguardo, na volta, Lázaro me bota pra dentro da área vip com ele. Pronto, garantia uma exclusiva! Só que não foi publicada na mídia oficial por causa do perfil do caderno que eu estava cobrindo, então vai aqui, onde eu falo (quase) tudo o que quiser:

P: Lázaro, você agora aparece em propaganda da Oi, de condomínio de luxo, tava plotado inteiro na fachada do Iguatemi... Você acha que o olhar da publicidade está mudando com relação ao negro ou é uma coisa localizada aqui, porque você é um baiano ilustre?

LR: Eu acho que a Bahia está um passo à frente neste sentido, mas não acho que seja um fenômeno isolado. Isto é o sinal do começo da compreensão do mercado publicitário da necessidade de dialogar com público negro, que também é consumidor. A discussão aqui já está mais avançada, mas é uma tendência nacional. Torço para que aconteça, porque é algo que mexe com a auto-estima do público negro, que passa a se sentir considerado.

P: Você fala em avanço na Bahia, mas no momento há uma cobrança das entidades negras com relação ao extermínio de jovens, em virtude de muitos casos terem ocorrido no último mês. Você tem acompanhado isso na mídia?

LR: Não tenho acompanhado isso, porque tenho estado bem pouco na Bahia, mas soube do caso do rapaz do Picolino - que parece que estava até selecionado para ir pro Cirque du Soleil - e isso me deixou assustado.

P: Também tratando da Bahia, você deve estar sabendo da celeuma do ano passado em torno da Secretaria de Cultura. Você percebe mudanças?

LR: Como disse, tenho estado muito pouco por aqui e não tenho bem como avaliar. É um assunto sério, do dia-a-dia da população. Além disso, tenho uma relação pessoal com Marcio Meirelles (Secretário). Ele me deu a formação artística, com o trabalho no Bando, e acredito que suas intenções são as melhores.

P: E o Carnaval, você chegou que dia? Vai ficar só no camarote?

LR: Cheguei hoje (segunda), aproveitando uma folga nas gravações até amanhã. Na verdade, vim a Salvador para gravar um novo quadro da segunda temporada de Espelho*, que deve estrear em maio no Canal Brasil. Aqui, a primeira temporada vai começar a ser exibida pela TV Salvador, a partir de abril e segue direto para a segunda. Esse novo quadro que estou gravando é com Vanda Machado, que vai contando histórias de lendas e mitos africanos. Num momento de folga, vim dar uma passada aqui no camarote.

Voltando ao trabalho insano, enquanto eu digitava este material na lan-house-berçário que era reservada à nossa equipe, eis que uma briguinha tola entre dois ébrios imberbes resulta num copo de whisky atirado contra mim e o teclado. É assim que o destino se vinga das pessoas.

Pouco mais tarde, zanzando pelo camarote na minha lida de celebrity patrol, saio do banheiro e me deparo com a escada isolada por uma barreira de seguranças. Sem entender bem, pergunto quem estava no recinto. Era ela, a bela Naomi Campbell. Olhei para a muralha humana e os detidos atrás dela. Entre eles, o restante da minha equipe. Eu era a única ativa na zona sitiada. E agora, José? Tateei por um momento, subi procurando a área vip onde ela deveria estar. Diante da entrada, mais hesitação. Sentia que era um peixe grande demais para eu puxar a linha, mas era a minha chance, era o meu dever naquele momento. Tinha de tomar uma atitude. Algo dentro de mim disse "reaja, bicha!" e lá fui eu. Os seguranças e o door desta área já me conheciam e deixaram passar. Lá dentro, outra barreira de guarda-costas, mas eu estava a um metro do meu alvo. Eu e alguns outros vips curiosos.

Foi aqui que puxei N-zan, tentei falar com as pessoas ao redor e nada. Chegaram os fotógrafos, mais aperto, mais tensão. Será que ela ia tacar o celular na cabeça de alguém? Diziam não nos deixar chegar perto porque ela estava fumando e não gosta de ser fotografada fumando. Até que o acesso dos fotógrafos foi parcialmente liberado, formando uma janelinha entre os corpos dos seguranças - tinha um que era tão grande, mas tão grande, que bloqueava a gente apenas girando sutilmente, sem nem olhar para nossas caras miúdas e suplicantes.

Devo ter passado uma outra hora lá, me espremendo contra os homens de preto e tentando chegar até a top através de alguma outra pessoa. A tipa é melindrosa, nunca se sabe, né? Até que lá pras tantas, ela mesma resolve furar o bloqueio dos seguranças para falar com N-zan, que estava fora do cercadinho, e eu começo a me esguelar: "Ms Campbell, may I ask you a few questions about Carnaval in Bahia?". "About what????" sim, ela estava me ouvindo.

Consegui então me aproximar cautelosamente e lhe perguntar como havia se sentido estando no maior bairro negro de Salvador - ela foi ao Curuzu e saiu no Ilê Aiyê - então senti que ela ficou doce, dizendo ter estado muito emocionada entre seu povo, que nunca tinha vivido uma experiência daquelas, que foi muito bonito e forte. E dizendo isso, seus cabelos perfumados passaram perto de meu rosto. A pantera das passarelas, com seus olhos dourados, contrariou toda a fama de má foi amável com todos. E eu me sentia ao mesmo tempo encantada, poderosa e louca. Saí pronta para demolir o mundo - mas não havia ninguém para ver.

1 Comments:

At 9:08 AM, Blogger Leandro said...

Ju, adorei seu blog. não conhecia ainda. este texto, em especial, foi muito bom. que beleza. imagino a loucura que deveria estar aquele camarote. muito bom ! bjos, bjos !

 

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