o caso da professora
Nos últimos dias, não se fala de outra coisa em Salvador. Para quem não sabe, trata-se de uma professora de educação infantil, que dançou no palco de um show de pagode a música cujo explícito refrão diz "todo enfiado" e isso foi parar no youtube. E não só na comunidade digital, mas em programas de tv de jornalismo sensacionalista e capa de jornal dito sério. Como consequência, pelo que soube, a professora "pediu demissão" da escola onde lecionava e teve de mudar de bairro, uma vez que ela nem a filha de 6 ou 8 anos não aguentavam mais ser motivo de chacota.
Pois bem. No vídeo gravado por inúmeras câmeras e celulares, uma mulher jovem aparece dançando com a calcinha e saia levantadas pelo vocalista da banda, remexendo com uma bela bunda na rua. Gritos e aplausos. Em seguida, isso lhe rendeu censura e condenação de toda a capital baiana, que a apontam como uma Geni, indicando que mereceu tudo aquilo que lhe aconteceu depois - uma reputação ladeira abaixo. Isso, no mesmo país em que a Rainha dos Baixinhos tem na filmografia um filme em que realiza a inicação sexual de uma criança, na mesma cidade em que Carla Perez, depois de tornar-se símbolo sexual de nível nacional, tornou-se puxadora de bloco infantil. Dois pesos, duas medidas. E veja que essa é a dita terra da alegria, do luxuriante carnaval, das festas de largo onde ninguém é de ninguém, de beijar na boca, do candomblé e seus deuses marcados de carnalidades.
Desde que o fato da professora ganhou as ruas, não ouvi nenhuma opinião em sua defesa, alguém capaz de acreditar que sua atitude exibicionista não mereça como resposta (para não dizer castigo) a destruição de toda sua vida - ou alguém duvida que ela terá dificuldades de arrumar emprego como professora por essas plagas?
Será mesmo que sua vida particular - no momento tornada pública - influencia diretamente na sua atitude enquanto profissional? Não conheço esta mulher, não compartilho de seu gosto musical e até achei a atitude vulgar, apesar de não tão diferente de outras tantas que já presenciei em dionisíacos momentos festivos. Mas sinceramente não acho que isso deveria ter provocado um racha em sua vida, nem mesmo ter ganho a capa de um jornal. Tenho ouvido até dizer que sua única chance de sucesso na vida, a partir de agora, é posar nua e outras profissões ligadas ao sexo, como há séculos é destino certo das mulheres que "perderam a virtude".
Pessoal, estamos em 2009! Já passou há muito a hora das mulheres tomarem conta de seu corpo, seus desejos sexuais, seus fetiches, seu poder. Muitas provavelmente têm a fantasia (INCONFESSÁVEL) de estar no lugar de exposição da professora - e outras até já fizeram fama e fortuna em posição semelhante. Mas aqui isso rebaixa, diminui e desmerece uma mulher que além de cuidar dos papéis de profissional e mãe, guarda tempo para sua diversão e seu prazer.
Se ela estava bêbada ou sóbria, na verdade, pouco importa. Ela vivia ali seu momento catártico e agora já foi julgada e condenada por isso. E olhe que ela não cometeu nenhum crime, não fez mal a ninguém, nem mesmo mostrou algo que já não estejamos acostumados a ver nas nossas praias ou tvs. Ela dançava conforme a música - cujo gênero, por sinal, é bastante popular em nossa sociedade. E por que agora essa mulher não serve mais para ensinar a crianças ou viver no seu bairro? Por que dar o bom exemplo é punir essa mulher que se expôs?
São perguntas que a Bahia precisava responder.