quinta-feira, novembro 29, 2007

Cabaré da RRRRRaça


Figurino anterior - o atual é vermelho.
Clique de Márcio Lima, fotógrafo oficial do Vila


A peça é do Bando de Teatro Olodum - conhecido nacionalmente por causa do filme Ó Paí ó, também saído de um de seus espetáculos - e existe desde 1997, mas eu só fui vê-la em 2003, quando fui trabalhar no Teatro Vila Velha. Peguei o bonde andando, já era uma montagem nova, com outro figurino, mudanças no texto, etc. etc. Teatro tem dessas coisas. Rever uma peça é muito longe de pegar e re-assistir ao dvd do seu clássico predileto. É uma coisa viva e mutante, que fica diferente a cada nova sessão, sofre transformações a cada temporada. O conceito, no entanto, continuava e continua o mesmo: um retrato crítico do racismo no Brasil, carregado no humor irreverente.

Até ver Cabaré da RRRRRaça, nunca tinha me tocado de muitas coisas que eles escancaram ali no palco. Sem ingenuidade, há muitas práticas racistas profundamente arraigadas na cultura brasileira, mas muitas vezes a gente não se dá conta porque nada disso incomoda a mídia ou a sociedade feita para a população branca e dominante. Nunca havia batido de frente com certas questões porque simplesmente não convivia com aquelas pessoas. Que pessoas? Negras.

Apesar de não ser racista, nem vinda de uma família racista (apesar de um ou outro desvio aqui e ali), a sociedade em que vivemos é, sim, racista. Na minha escola particular, por exemplo, posso contar nos dedos - da mão do Lula - quantos colegas de classe eram negros, sendo que alguns deles eram bolsistas filhos de funcionários, uma concessão. Na faculdade (Federal pré-cotas), a mesma coisa. Isso é no mínimo um desequilíbrio, considerando que vivo na chamada maior cidade negra fora da África.

Homens, mulheres e crianças da raça negra, portanto, não faziam exatamente parte do meu círculo social. Estavam sempre como 'coadjuvantes', nos papéis serviçais, nos sub-empregos, na vassalagem, sutis atualizações da escravidão dita extinta há muito tempo. E nesse contexto, muitas idéias preconceituosas são apresentadas com naturalidade e somente quem sente na pele - e às vezes nem estes - pode saber do que está falando.

É exatamente essa dimensão que o Cabaré da RRRRRaça traz à tona. Os personagens olham nos olhos da platéia e dão a medida do absurdo que é viver imerso numa sociedade que não lhes reconhece e faz cara de paisagem a respeito disso. Através de vozes diversas, às vezes até mesmo contraditórias, como é próprio da natureza humana, a peça aponta verdades duras que precisam ser ouvidas por brancos e negros. Considero um trabalho fundamental para entendermos que Brasil é esse em que nós estamos.

O discurso de igualdade muitas vezes é hipócrita e não abarca questões fundamentais, esmagando algumas diferenças que são inerentes aos grupos. Há diferenças, sim, e reconhecê-las é parte do processo de inclusão. Diferenças que, longe de somar ou subtrair, são particularidades. São enormes diferenças históricas, diferenças culturais, estéticas, que precisam ser respeitadas, pois determinam reações, necessidades e soluções igualmente diferenciadas.

Por outro lado, o que é ser negro, afinal? Lembro de uma resposta que Marcio Meirelles dava às vezes em que o apontavam como o "diretor branco" do grupo: "O único branco do Bando é Zebrinha, que toma chá com leite".

Com o Cabaré, há dez anos o Bando de Teatro Olodum vem metendo o dedo numa ferida aberta no seio da sociedade brasileira, tão propalada como rica e miscigenada, dotada de uma exuberante cultura antropofágica e tropicalista por natureza. Da estréia, com a polêmica da 1/2 entrada para negros, muitas coisas mudaram: produtos de beleza para estética afro, cotas na educação, a primeira protagonista negra numa novela brasileira, racismo tornou-se crime, Lázaro Ramos (d0 mesmo Bando) é queridinho do cinema nacional e empresta o rosto a propagandas, inclusive de condomínio de luxo... Alguns diriam 'avanço', outros 'reparação', ou 'antes tarde do que nunca'.

Parece que finalmente há um movimento nos paradigmas. Felizmente! E acredito que o Cabaré da RRRRRaça, nascido aqui, na triste e dessemelhante Bahia, tem papel ativo nessa história.

Parabéns ao Bando de Teatro Olodum. Vida longa a seu poder!

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quarta-feira, novembro 28, 2007

Explicando seres humanos

Acessórios revelam estilos de vida e essa sua touca de croché, meu bem, não combina com os meus óculos de acetato.

terça-feira, novembro 27, 2007

Para o menino de olhos castanho-ensolarados

menino de olhos castanho-ensolarados
você balançou minha madrugada
deixou minha pele mais corada
e minha boca com saudade


seus olhos castanho-ensolarados
irradiaram no nascer do dia
uma manhã mais florida
e uma respiração descompassada


menino da pele suada
sua silhueta descansada
de uma vontade há muito tempo guardada
ficou no travesseiro até mais tarde

sábado, novembro 24, 2007

genialidade manguebeat

Chega um momento em que aquela música que você já conhece há tempos soa diferente. Algum acorde toca como uma epifania, daí saltam sons nunca antes identificados, referências e interpretações que estavam guardadas em alguma gaveta bagunçada do inconsciente, desperta uma nova beleza. Foi assim hoje (leia-se sábado, 24) com Criança de Domingo, do álbum Afrociberdelia, de Chico Science e Nação Zumbi.

A batida e a letra evocam uma ciranda, abraçada com uma balada rock (ou seria pop?) que continua atual. Como ninguém, o caranguejo Science sabia como fazer colidir o regionalismo com as manifestações mais-que-contemporâneas da música. É impressionante prestar atenção nos sons, no ritmo cíclico da canção e da melodia, ver o pop caminhar de mãos dadas com o tradicional. Sua voz soa como a de um cantador nordestino típico, contrastando com os instrumentos usados no arranjo, que por sua vez criam sutis contrastes entre si mesmos.

A música cria imagens de uma tranquilidade dos olhos de uma criança, uma certa ingenuidade diante do mundo e do tempo passar, em construções que solavancam o português culto, em que parecem faltar partículas, mas fornecem sentidos e provocam sensações para além do que se canta. E quando Chico se cala, sobe a voz dos instrumentos numa paz sem fronteiras, que aponta um utópico Nordeste livre de conflitos e consciente de sua beleza - cultural, natural, sem grilos com a contemporaneidade.

Para quem não lembra ou não conhece, segue a letra simples, lúdica, poética.

Eu sábado vou rodar
Criança de domingo
Sem saber guiar
Criança de domingo

Amanhã tem mais
Segunda é um dia lindo
Faça chuva ou sol
Amo o meu domingo

Eu sábado vou rodar
Criança de domingo
Faça chuva ou sol
Amo o meu domingo

quinta-feira, novembro 22, 2007

embarque

quarta-feira, novembro 21, 2007

meu coração de óculos escuros

Dê um Rolê

Não se assuste, pessoa

Se eu lhe disser que a vida é boa
Enquanto eles se batem
Dê um rolê e você vai ouvir
Apenas quem já dizia:
Eu não tenho nada
Antes de você ser, eu sou
Eu sou
Eu sou o amor da cabeça aos pés
É só te beijando o rosto
De quem dá valor
Pra quem vale mais um gosto
Do que cem mil réis
Eu sou,
Eu sou,
Eu sou o amor da cabeça aos pés

segunda-feira, novembro 19, 2007

Alucinação Coletiva

Sexta-feira, já passava da meia-noite. Vega, Fabi e eu tínhamos tomado umas cervas e acreditávamos que ainda era possível pegar um ônibus que servisse a nós três - ela para voltar para casa, nós para economizar uma parcela de táxi a caminho da Zauber. Para nossa surpresa, os ônibus ainda passavam, o que reitera a boa impressão que tive outro dia, de que a frota anda varando a madrugada.

Eis que vem um estranho micro que eu nunca vi. Era Lapa-alguma-coisa. Meio bêbada, perguntei ao motorista se passava pelo Campo Grande. E por Ondina. Passava. E ainda dizia Vitória na tabuleta.

Se você não anda de ônibus em Salvador, isso pode não ter a menor graça, mas se você é usuário, sabe do que estou falando. NÃO EXISTE uma linha sequer que faça este trajeto. É até um percurso fácil, mas nenhuma linha da Lapa passa pelo Corredor da Vitória e apenas uma ou duas passam pelo Campo Grande, sendo que nenhuma delas passa por Ondina. Sacou? É praticamente um cruzamento de paralelas.

Subimos no microônibus e as coisas só fizeram ficar mais estranhas. Na verdade, em vez do motorista, quem estava dando as instruções aos passageiros desavisados era um rapaz aparentemente de classe média, branquelo, com uma camiseta do Slayer. Tava numas de co-piloto mesmo, interagia com todo mundo que entrava e que saía, sabia mais que o motorista, não entendi nada. Foi ele que esclareceu que aquela linha - Conj. Pirajá - Lapa - só roda depois da meia-noite, entre outras especificidades. Parece que vai recolhendo os bêbados e trabalhadores da noite num trajeto impensável, mas inteligentíssimo para os padrões do nosso transporte público.

Para completar, o ônibus tinha porta de entrada e porta de saída, quando os micros, na verdade - e quem anda de busú também sabe disso - têm apenas uma para as duas coisas.

Rimos durante todo o trajeto, até saltarmos no Campo Grande fazendo piadas sobre Harry Potter, teletransporte, drogas alucinógenas e a possibilidade de terem colocado raspa de unhas na nossa cerveja - o que os mais crédulos atestam ter poderes psicotrópicos muito superiores a cogumelos de primeiríssima qualidade.

Torço para que a tal linha exista mesmo, porque parece que alguém finalmente tomou uma atitude para facilitar a vida dos boêmios pé-rapados (pleonasmo) desta cidade.

domingo, novembro 18, 2007

Música!

Toda manhã, quem toma café comigo é a MTV. Pelo horário, em geral está sendo exibido o Lab, que é uma programação aparentemente aleatória de clipes e cuja qualidade depende do gosto de quem os está selecionando lá nos bastidores. A coisa é tão louca, que pode haver sequências maravilhosas de músicas dos anos 80 e 90, com artistas alternativos sensacionais, mas de repente degringolar para as combinações bizarras de rap e música pop que se espalham feito praga nas paradas norte-americanas nos últimos anos. Pois bem, MTVLab é minha família faz um ano, na minha TV chuviscada, que me deixa sem saber os títulos de boa parte das músicas ou na fissura de ir ao Google descobrir qual a banda desconhecida a partir de algum trecho da letra da música.

Ira!

Na última semana vi duas ou três vezes este clipe (novo?) do Ira!, que achei simplesmente uma fofura. Não sou fã da banda, mas confesso que tenho grande apreço por eles, principalmente por terem a fera do Scandurra a seu serviço. Para falar a verdade, sempre que páro para pensar, gosto de muitas coisas que eles fazem, apesar de reconhecer que é uma dessas bandas que estão num limbo estranho que mistura talento, mainstream e exumação de sucessos.

Neste clipe, Mariana foi pro Mar, o Ira! - cujo vocalista Nasi nos últimos anos meteu na cabeça que é Wolverine - assume uma estética surpreendente feminina. A música conta a história de Mariana, uma moça que vai da depressão ao litoral, numa simpática história de superação da dor-de-corno. A letra é engraçadinha, o arranjo fofo e o clipe também é uma graça, com uma atmosfera romântica retrô, com uma pitada de sonho - em alguma medida nos faz lembrar de Amélie Poulain. É protagonizado por uma garota de vestido vermelho de bolinhas, e conta até com um cachorro em animação, fiel escudeiro e salvador da pobre Mariana.

Achei sensacional o fato de os mesmos caras que têm uma música chamada Entre seus rins - que conta com o seguinte trecho: Me deu o dedo / Eu quis o braço e muito mais / Agora estou a fim /De ficar entre os seus rins - cantarem uma música de "menininha", que ficaria excelente na voz de Fernanda Takai (leia-se Pato Fu) ou de Érica Martins (Penélope). Veja só:




My Chemical Romance

Final de semana as coisas mudam um pouco e, ao acordar mais tarde, acabo vendo outros programas. Foi assim que acabei de assistir ao MTV+ que dessa vez destrinchava o My Chemical Romance. Eles fazem um pequeno documentário revelando a banda através de trechos de shows, videoclipes, entrevistas e muita informação biográfica. É bom pra caralho! Se você gosta da banda, ótimo, se não gosta, também vale pela curiosidade.

Assim, acabei ficando superafim de conhecer mais desta banda, que pelos clipes me parecia pretensiosa e patética - talvez seja mesmo, até porque, ao longo do programa me vi absolutamente confusa entre eles e o Good Charlote, lembrando ainda o Panic! At the Disco.

O Leo Madeira, apresentador do programa, contava que a banda nasceu a partir da tragédia do 11/09, combinada com uma depressão que vai e vem na linda cabecinha do vocalista Gerard Way, tem influência de bandas como Cure e Smiths (duas das minhas paixões, então apontadas como "os pais do emo"), mas também do Misfits e do Iron Maiden (hein!?). Entre um trecho de clipe e outro, com uma piada aqui e outra ali - o cara falou que a falecida avó do vocalista ensinou-o a cantar e tocar um instrumento lá, e que talvez também o tenha ensinado a usar maquiagem - mostrou uma banda que tem uma imensa preocupação estética, trabalha com conceitos sólidos, tendo álbuns que constroem narrativas ficcionais completas e sombrias, além de muita grana pra executar todas essas paradas. Ah! Eles têm também uma relação muito forte com artes dramáticas e visuais, como histórias em quadrinhos. UUUUUUUUh!

Na real, apesar da curiosidade, ainda acho que algo nos clipes soa fake e a interpretação over do vocalista na tela é meio ridícula. Vai ver é porque eu não acredito que alguém tão bonito, com tanto dinheiro, em Nova York possa ter depressão e transformá-la num Moulin Rouge gótico. Mas eu juro que vou chegar mais perto para ver direito colé.

Confira o clipe de Welcome to The Black Parade, música que dá título ao álbum que conta a história de um cara de uns 30 anos à beira da morte por câncer, que revê sua própria vida cheio de arrependimento. Isso mesmo: deeeeeeeeeeeeeeeeenso!


quinta-feira, novembro 15, 2007

A sessão de cinema mais bizarra de toda minha vida

Acabo de chegar dela. Fui ao Cinemark com uns amigos assistir ao filme Uma Mulher sob Influência (1974), de John Cassavetes, integrando uma mostra sobre o autor que está em cartaz aqui em Salvador. Filme cabeção a preço promocional (R$ 4 - inteira) não pod mesmo dar em boa coisa. Apesar de haver pouca gente na sala, parecia que todos os desavisados mal-educados da cidade tinham escolhido o mesmo ponto de encontro.



O filme é tenso o tempo todo, conta a história de um casal cuja mulher de meio "excêntrica" fica totalmente biruta e acaba indo passar uma temporada no manicômio. Antes disso, ela apronta umas poucas e boas com os três filhos pequenos, a família, o marido e seus colegas de trabalho estranhos. Mabel é a única louca de carteirinha na história, mas todos os outros personagens não ficam exatamente atrás. Paira um clima de agressividade no ar, as pessoas todas muito nervosas, como se todos estivessem à prestes a romper o fio da lucidez e ter algum ataque de ira. O ambiente do filme é familiar, de encontro entre amigos, mas é hostil como se fosse uma verdadeira guerra - aposto que há histórias diretamente do front que são mais tranquilas. Nada dá muito certo com ninguém, os personagens estão a todo momento necessitando relaxar e espairecer, mas existe sempre uma situação melindrosa, um constrangimento, como se a calma fosse proibida nesta narrativa.

Talvez, a cena mais emblemática disso é quando Nick (o marido) tira um dia para ir à praia com as crianças e um de seus amigos. Os homens andam rápido pela areia e conversam aos berros, o pai tange os filhos à procura de um lugar para se instalarem e é tão rude que chega a dar um safanão na garotinha, que a derruba no chão. Depois desse "divertido" dia de sol e banho de mar, eles voltam para casa no fundo de uma carretinha e o pai divide sua cerveja com sua prole, que não deve ter mais que 7 ou 8 anos.

Agora imagine um filme como este exibido para a nossa refinada platéia soteropolitana. Logo no começo da sessão, as pessoas conversavam entre si sem a menor desfaçatez. Não eram murmúrios ou um burburinho, dava para ouvir o que falavam. Fiz um "shhhhhhhh!" e o volume diminuiu, mas óbvio que não parou, porque estávamos cercados. Uma idiota atrás de nós começou a ler as legendas, que eram em português de Portugal, em voz alta. Uma outra lá na frente balançava um inacreditável chocalho de pulseiras que faria inveja ao Sinhozinho Malta. Para completar, o áudio do filme estava baixíssimo, o que tornava até sacos de pipoca verdadeiros trovões.

Felizmente não demorou muito para que boa parte deste povo se picasse do cinema, mas havia os mais renitentes. Outro "shhhhhhh!", dessa vez de Rodrigo. Houve ainda um terceiro, também em nosso grupo. Mesmo assim, rolou o clássico momento em que toca o celular - com um mp3 de reggae altíssimo - e obviamente a princesa atende para dizer "oi! te ligo depois, porque não posso atender agora. estou no cinema. isso, no cinema. hã? o que? não posso falar com você agora. tchau! depois eu te ligo. tchau!". Parece que o povo havia chegado à bilheteria dizendo assim: qual é o filme mais barato que vc tem aí? Porque é possível que alguém vá ao cinema sem nem saber do que se trata (como eu fui, inclusive), mas é difícil isso acontecer quando se trata de uma mostra seletiva. E que raio de popularidade massiva pode ter um título como "uma mulher sob influência"? Difícil de explicar.

Mas para ser a sessão mais bizarra de toda minha vida, ainda há outros elementos, é claro. Uma mulher levantou-se para ir embora e se espatifou na escada, fazendo um barulhão e provocando uma risadaria que parecia que não ia ter fim. Pouco depois, botando a cereja no bolo, a tela perde o enquadramento, ficando sem legendas e com um foco super esquisito, acentuando ainda mais o estranhamento causado pelo filme. Foram longos minutos assim, perdendo falas, até que se acenderam as luzes e a projeção foi interrompida para que ajeitassem as coisas.

Tive a nítida sensação de que tudo isso estava planejado como um programa de imersão especial para o filme. A tensão na tela era amplificada pela irritação fora dela, tornando a experiência completa e peculiar. O grau de transferência do clima de estar ao limite para a platéia não poderia ter sido melhor imaginado pelo diretor.

Enquanto assistia ao filme, queria logo que ele terminasse - até porque é bastante longo, passando de 2h de duração, e eu estava morta de fome - mas este é um daqueles que ficam latejando na memória da gente, com efeito prolongado. A agonia que ele provoca é proposital, na secura da falta de trilha sonora, com relações tratadas à pontas de faca. Gena Rowlands, no papel da despirocada Mabel está divina, com uma loucura constrangedora, irritante e que ao mesmo tempo desperta compaixão. Ela é absolutamente verossímil, reunindo características do que poderia ser uma personalidade forte com uma intensa fragilidade emocional, caras e bocas distorcidas, juntamente com gestos guiados por uma lógica incompreensível de alguém que tem um universo paralelo desconectado da realidade dentro da própria cabeça.

Livre da sala, que de enorme, elegante e confortável havia se transformado numa besta claustrofóbica com todos estes acontecimentos e o efeito provocado pelo filme, comecei a refletir sobre todos os temas tocados pela loucura de Mabel. Estão ali assuntos de família, de amor, de convenções sociais, de laços afetivos, relações entre pais e filhos, tratamento de enferminades mentais... É como se a obra fosse se sedimentando e do incômodo em estado bruto fosse lapidado um entendimento da complexidade e do êxito do trabalho de Cassavetes. Um soco, definitivamente.

É um filme instigante. Nada a ver com clima de feriado (mas excelente tê-lo visto hoje) e muito menos com cinema fast-food.

terça-feira, novembro 13, 2007

Eu, monstro consumista

Para Cristiano Canguçu, que não aguenta mais me ouvir dizer que gastei dinheiro


Sou louca por sapatos. Só não sou mais, porque meu status econômico e uma raspa de consciência social não permitem. Mas tenho pares suficientes para me agradar e ser uma quantidade considerada supérflua. À maneira soteropolitana, talvez eu seja uma versão menos glamourosa e bem sucedida da Carrie Bradshaw, mas sinceramente espero não ir à falência por causa dos companheiros dos meus pézinhos. É bem verdade que meu gosto e minha disponibilidade estão beeeeeem distantes dos Manolo Blanc da jornalista mais descolada da América. Ainda assim, tenho um prazer todo especial em escolher, experimentar, e especialmente comprar sapatos.

Dia desses experimentei a peça mais extravagante de toda minha vida: um scarpin de salto agulha na cor beringela-cintilante. Esse eu não levei para casa porque seria um ato puramente perdulário, uma vez que não uso sapatos de salto fino (somente plataformas, salto anabela e outros gordinhos que dão segurança às minhas patinhas de Touro). Parecia o sapatinho de uma Barbie meio drag.

Mas a mais nova aquisição (depois de uma sapatilha vermelha e uma crocs roxa), é um Allstar com estampa floral de inspiração indiana. O primeiro tênis estampado da minha vida, que emoção! Tinha visto ele numa vitrine e achei um verdadeiro charme, superfeminino, divertido, despojado, gracioso, enfim... (um dos) sapato que eu gostaria que me definisse como pessoa. Neste dia, por alguns contratempos, fiquei apenas sabendo o valor do bichinho, mas não cheguei a experimentar. Fingi para mim mesma que eu esqueceria aquela adorável visão e a imagem imediata deles nos meus pés, que veio da mesma forma como aparece nos devaneios esfumaçados de um filme romântico das antigas.

Acabei mesmo deixando a história para lá, até que entrei na C&A ontem - SÓ PARA PAGAR A FATURA - e me deparei com várias estantes com Allstars que eu adoraria ter: roxo, verde piscina com detalhes em rosa, florais... E lá estava o meu floral indiano! Na primeira passagem, resisti, mas na saída, já com cartão pago, fui atraída como um imã. Eu só ia experimentar, algo que comigo funciona sob a mesma lógica de "pôr só a cabecinha". Catei meu número sem dificuldade, calcei, olhei no espelho e me lembrei de uma matéria que acabo de fazer sobre a questão do consumo consciente. Pronto! Tava armada a batalha entre o anjinho e o diabinho dentro da minha cabeça. E dessa vez o anjinho tinha a cara do Cris.

Fui então voltando com os tênis para a prateleira, devolvê-los para o lugar de onde eles jamais deveriam ter saído para passear. "Você é assim: consegue ter exatamente as coisas que quer, mas aí abre mão para ter a certeza de nunca estar satisfeita", disse algo dentro de mim. Fiquei que nem uma estaca enfiada no chão diante dos tênis. Pensava na quantidade de sapatos que já tenho, mas o quanto aquele floral era diferente. Era o saldo da conta bancária contra a possibilidade de parcelamento. Era Cris dizendo 'o que importa é o que está dentro de você'. Mas esse Allstar é tão bonitinho, vai fazer tão bem à minha feminilidade... E afinal de contas meu Allstar preto tá ficando feio e velho mesmo. Precisar, mesmo, eu não preciso deste tênis. Ai! E agora?

(nisso, o tempo ia passando e meu atraso pra chegar no trabalho ia virando um poço sem fundo. eu podia sentir o tempo se transformando em uma coisa viscosa sob meus pés e nas minhas mãos. que merda é essa que está acontecendo? parecia que eu estava mergulhada numa viagem lisérgica dentro daquela estampa, porque o mundo ao redor tinha parado e mil coisas continuavam acontecendo freneticamente nos meus pensamentos)

FODA-SE! - De que adianta trabalhar tanto se não é pra gastar nas coisas que a gente gosta?

Pronto, agora mais do que um par de tênis bonito, carrego um símbolo todo pessoal nos pés. Uma verdadeira batalha, que até agora não sei se ganhei ou perdi. Podia mandar tatuá-los com as tais flores, para eu nunca mais esquecer dessa lição.

Que lição?

domingo, novembro 11, 2007

Primeira roupa (mal) lavada a gente não esquece

Desde que me tornei adulta, coisa de duas ou três semanas atrás, quando depois de adquirir, finalmente instalei minha máquina de lavar, fiz minhas primeiras investidas neste novo universo maravilhoso do automatismo da higienização e limpeza de peças de vestuário.

A primeira missão esteve longe de ser um sucesso. Tentei seguir à risca o manual e usar a capacidade máxima (6kg) para lavagem. Usando uma balancinha ordinária de cozinha, fui medindo o peso das peças imprecisamente - coisa mesmo de lammer - e com o peso aproximado, mandei bala. Resultado: excedi a capacidade da lavadora em volume, o que resultou em peças de roupa que estavam mais sujas saírem de lá de dentro com aroma de cachorro úmido. Patético. 6 ou 8 delas foram para a repescagem. Pelo menos eu já conhecia a velha regra de separar roupas de cor das roupas brancas e de cor clara. Fora algumas borras de sabão em pó (outra lástima), nada de manchas reais. Ok, não foi de todo fracasso.

Ontem foi a vez de botar pra lavar minhas roupas íntimas, exceto os sutiãs com falsidade ideológica que eu também já aprendi que não podem ir na máquina. Joguei tudo lá dentro, meio nível de água, resolvi inovar na programação de lavagem, utilizando o chamado "molho dinâmico". Também me julguei avançada o suficiente para lançar mão do amaciante. Deu certo! Só que eu ignorei a regra da separação das cores (sim, elas valem também para peças íntimas!) e como tenho muitas peças na cor preta, o resultado é que agora não tenho mais calcinhas brancas. Todas (eu disse TODAS) adotaram um rosa bem clarinho desbotado, presente das peças escuras que soltam coloração na água da lavagem. Nice, uh? Mais uma importante lição sobre o funcionamento das coisas no mundo.

Depois de colocar o meu "rosário" para secar, enfiei os jeans e algumas outras peças na lavadora. Acertei no volume de água e no programa de lavagem. Tomara que dessa vez também tenha matado o cachorro.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Pequenos Fenômenos

Diz a tarde: Toda manhã já foi madrugada
Na voz de Mariela Santiago

Hoje aconteceu um troço bem esquisito comigo. Estava no ônibus, já para saltar, com os braços estendidos em cruz, a mão esquerda segurando uma das barras verticais de apoio do banco do passageiro, a direita numa das horizontais que ficam presas no teto. Do nada - aparentemente coincidindo com o momento em que uma outra passageira pressionou o botãozinho de pedir parada - senti uma descarga elétrica percorrer toda minha envergadura, traçando uma trajetória clara da direita para a esquerda. Foi rápido, discreto e assustador. Depois disso, sem absolutamente nenhuma dor, machucado ou sequela, saltei do ônibus como se nada tivesse acontecido, mas completamente encafifada. Lembrei na hora do que minha avó sempre dizia: para morrer, basta estar vivo.

Aí nessas horas a gente começa a pensar um monte de merda. E outras coisas bem sérias também e cheia de sentido. Lembrei da história que me contaram outro dia, de que tinha uma galera curtindo uma festinha em casa, daí um carinha descobriu que a geladeira estava dando choque (mais ou menos como aquela propaganda da Skol). O esperto então resolveu ficar apoiado na geladeira, de forma que ele não levava choque, mas triscava nas pessoas e elas recebiam uma leve descarga. Hahaha! Muito engraçado. Até que um dos convidados, no momento em que foi submetido à tal pegadinha, sabe-se lá por que razão idiota, teve um treco e morreu. Caiu ali mesmo, durinho, e acabou com toda a graça da festa - e deixou o palhaço traumatizado, naturalmente.

Enfim, fiquei pensando na fragilidade das coisas. Tipo, você leva uma vida regrada, cheia de cuidados, atendendo desde as recomendações da sua mãe, até as advertências do Ministério da Saúde. Não dirige depois de beber, faz todos os exames periódicos, atividade física, alimentação balanceada com todos os nutrientes, não fuma, não anda sozinho na rua depois de horários suspeitos, só trepa com camisinha, até que um dia, sem nenhum aviso... o avião da TAM cai na sua cabeça. E o tsunami? Quem é que espera pelo tsunami? Uma massa d'água que lambe para o nada um pedaço de paraíso litorâneo. Assim, out of the fuckin' blue.

A gente tem que se preocupar com o que, afinal? O tempo todo as pessoas tentam se apegar a certezas, materiais ou não, ao passo que a vida, em sua espiral entrópica, dá provas de que existir se sobrepõe a qualquer lógica. Vejo meu brinco novo de prata e lápis-lazuli descolado, a passagem da BRA que não foi reembolsada, os saltos dos sapatos caríssimos que descascam depois de alguns anos de uso, meu rosto, os dos meus amigos e o do Morrissey alterados nas fotografias recentes e é como se tudo isso fosse prova da inevitabilidade do tempo, da perecibilidade do mundo, da necessidade de viver como se não houvesse amanhã, mas sempre guardando um pouquinho pra mais tarde.

Nem sempre temos certeza de onde queremos chegar. Seguir o caminho é inevitável.

quarta-feira, novembro 07, 2007

Narrativas mirabolantes e self-sabotage

Uma mulher atravessa faixas de avenidas, calçadas e escadas rolantes como se o mundo a visse pela primeira vez. São olhos e mais olhos sutilmente cobiçosos em galanteios imateriais. Suas íris e as de montes de homens poderiam se tocar com tantos encontros. Ela ri por dentro como uma garotinha que toma banho de chuva ou que calça sapatos novos, cheia de orgulho e novidade. Isso acontece por horas, por dias. São muitas as caras, bons sempre, os rostos.

Vai a um bar e já é observada na porta de entrada. Como sempre, ela finge que não vê, um tanto por incrédula. Ele é ruivo, barbado, não é alto e tem uma aparência despojada e afável. Usa boné, o que dá um desconto de alguns anos em sua maturidade. E ela finge que não vê.

Lá dentro, na fila do banheiro, por necessidade, ela é quem toma a iniciativa. Sim, a fila é única e uma boa desculpa para pessoas se conhecerem, trocarem humores alcoólicos, que são sempre os melhores. Num gesto de cavalheirismo arcaico, ele permite que a mulher passe à frente, o que ela agradece com o sorriso de sexo frágil que nunca usa.

Quando eles se reencontram na pista de dança, não são necessárias mais nem meias-palavras. Um encontro de corpos cheio de vontade, mãos velozes que percorrem a pele feito calafrios - and she likes it. A boca, de tão bem encaixada, parece saída de um daqueles sonhos úmidos, dos quais você acorda ofegante e de rosto queimando, não importa qual seja o seu sexo. Na velocidade das luzes estroboscópicas, um selinho de adeus, a troca de números e o combinado de se encontrarem amanhã, numa outra casa noturna.

Sem que os telefones tocassem, no dia seguinte, lá estava ela fingindo novamente que não via o cara. Ou melhor, dessa vez decidiu implicar. Sem que tivesse de fato achado nenhum defeito realmente convincente, começou a pensar nele como se fosse Anão. Não um anão qualquer, havia até certo carinho em sua referência. Era O Anão, como raça de gente, tipo um daqueles de Senhor dos Anéis. O anão-default da fantasia medieval, bem conhecido de qualquer nerd adolescente. Como se não fosse bastante, focou no boné, teve a idéia de que era o mesmo do dia anterior (e qual seria o problema disso mesmo?). Ah, sim! Ela não gostava de homem de boné (desde quando??). Achava meio porco e pronto. Para completar, ao avistá-lo dessa vez, estava novamente na fila do banheiro e cumprimentando uma outra garota. Pronto, estava formado: trata-se de um oportunista, que pega mulher na fila do banheiro! E ela, definitivamente, não se metia com este tipo de gente.

Baixou os olhos com desdém, fechando suas janelas para que as íris do Anão não entrassem. Virou as costas. Perdeu as mãos, a boca e apagou da tela os dígitos que poderiam fazê-la mudar de opinião.

terça-feira, novembro 06, 2007

Filosofia de busão

O cara que sentou ao meu lado hoje de manhã no ônibus, na hora de ir pro trabalho, estava ouvindo reggaeton nas alturas em seu player. Tanto, que eu podia ouvir também. Puxei o fone de seu ouvido e disse de forma que pudesse superar o volume da música:

VOCÊ VAI FICAR SURDO, DESGRAÇA!

Corta pra vida real. Vontade bem que deu, só pra ver como o sujeito reagiria. Não fiz isso, é claro. Fiquei ouvindo o chiado, pensando em como na realidade de Salvador os metro-sexuais são os bráus. Esse tinha um piercing enorme abaixo do lábio. Eles pintam o cabelo, usam brincos enormes, fazem cortes de cabelo extravagantes, cuidam das unhas, dão formatos diferentes às barbas, usam litros de perfume... Quer dizer, uma adaptação toda peculiar do conceito atribuído ao vaidoso cosmopolita. Mas aqui, são os bráus que gastam tempo e criatividade com água oxigenada e outros cosméticos, cujo resultado é de gosto duvidoso, mas revela um cuidado todo especial com o estilo. Qual a periguete que não adora? Questão de público-alvo.

segunda-feira, novembro 05, 2007

Sair do verde

Pensei em responder à provocação, mas estaria fazendo uma outra provocação. Para que? Para onde? Opto agora por rumar em direção aos braços do desconhecido. Com ele irei assistir ao pôr-do-sol na Baía, matar a saudade do sexo na sala diante da MTV, rejuvenescer mil dias com seus anos a menos e esquecer dos cabelos brancos que me despontam lenta e ardilosamente - tenho certeza de que um dia serei surpreendida pela neve no meu espelho, mas até lá minhas rugas de expressão revelarão sorrisos. Verbo é vida, mas às vezes cansa. Letras às vezes são emoções que se perdem em palavras camufladas, lá fora na varanda o tempo dilatado é receptáculo do exercício da ojeriza. Desde que me reformei, sou abertamente dada a novidades - dia desses, cheguei a comer um crepe de cordeiro com purê de mandioquinha e calda de frutas vermelhas, o que prova que nem sempre o novo é um caminho correto. Tenho certa desconfiança do habitual, porque pode esconder acomodação e receio. Ainda assim, animal de patas largas que sou, procuro firmeza no horizonte, chão onde eu possa construir minha própria casa de certezas. Naquelas mãos, impossível. Por isso sigo, contrariando meu signo conservador, entro no jogo do cabo-de-guerra entre as incertezas e uma nova segurança, e tudo é desculpa para brincar de cabra-cega com Felicidade. Afinal de contas, a vida é toda de brincadeiras de criança.

sábado, novembro 03, 2007

Tim Festival em São Paulo - o grande dia!

Passam das 23h30. Estou surpresa pela quantidade de ônibus que ainda vi na rua, enquanto voltava para casa a pé. Num dia de sábado, feriadão, ver ônibus nas ruas de salvador depois das 22h é quase tão espetacular quanto a aparição da Virgem. Deixei uma amiga paulista dentro de um táxi, saindo do ponto mais boêmio da cidade e ela observava, incrédula, como as pessoas não interagiam ao ar livre, emparedadas por suas rodinhas e mesas. A verdade é essa: baianos não são comunicativos. Quando muito, somos entrões e mal-educados.

Pois bem, os shows do Tim Festival...

Grande evento, concentrando todas as atrações que eu gostaria de ver onde quer que estivessem: Björk, Juliette and the Licks, Artic Monkeys e Killers. Dei muita sorte da grade colocá-los juntos, justo em São Paulo, onde tenho tantos queridos.

Cada um à sua maneira, grandes shows. O de Björk abriu a série dos mais aguardados, após as desastrosas apresentações do Spank Rock (um verdadeiro vexame) e do Hot Ship (dispensável, mas mais comprometido por causa de falhas no som). Com cenário exuberante, grande investimento em figurino, firulas e mágica cênica, a deusa esquimó da música contemporânea encheu os olhos, ouvidos e corações dos milhares presentes, entrando com Earth Intruders e seguindo com as belas canções de álbuns anteriores como o Vespertine. Verdadeiro espetáculo, emocionante, mas que seria privilegiado com um espaço menor e mais aconchegante para vermos os detalhes. Em meio às músicas, me peguei de mãos na cabeça olhando para os céus a me perguntar de que galáxia vinham aqueles sons, ao mesmo tempo em que agradecia por estar vivendo aquele lindo momento entre grandes amigos. Me perguntei sobre o destino da vida e se era possível ir além em termos de felicidade.

Depois veio Juliette Lewis e seus machos com a esperada performance rock'n'roll que Vega jura ser pura interpretação. Não creio. Como eu gostaria de ver: muito suor e energia, ela louquíssima a se atirar no chão, arrancar peças de roupas e fazer cara de demente, enquanto cuspia suas letras a plenos pulmões e exclamava estar realizando a vontade de vir ao Brasil mostrar seu rock de moleca. Ok, clichê, mas ganhou o meu coração e do resto da galera. O som não ajudava muito, já que a princípio era quase impossível ouvir seus vocais. Mas Juliette é massa!

Os intervalos entre os shows foram de apavorar - alguns deles, inclusive, chegaram a ser mais longos que as próprias apresentações. Uma lástima. Antes do show do Artic Monkeys eu já me sentia em frangalhos, conhecendo novas facetas da dor com os pedidos de clemência dos meus pés, da minha coluna e dos meus ombros por causa da bolsa. A fome também foi de lascar, nada ajudada pela falha estrutura de bar e lanchonete montada no local, que chegou a nos fazer atravessar os 800 mil metros que separavam as duas alas em busca de comida e algo para beber. Ah, e em determinado momento, mal chegava à metade do evento, faltou água, cerveja e o diabo. Coisa feia, muito feia!!!

Daí que no show dos Artic Monkeys, com a energia drenada, me sentei no chão ao fundo, mal ouvindo a banda, assentada em meio ao monte de lixo descartável abandonado pela multidão. Ao que parece, os meninos não se saíram muito bem. Quem muito esculhambou a performance foi Rodrigo que, é bem verdade, já tinha ido com uma disposição abaixo da média para conferir a banda. O cenário era nada e a energia no palco também não era das melhores. Eles também não pareciam estar dando o melhor ali em cima.

Por fim, já eram mais de 4h da manhã - originalmente, os shows deveriam ter terminado às 2h - o Killers subiu ao palco montado com árvores e luzinhas de Natal, tendo escrito ao fundo com letras luminosas Sam's Town, que Vega leu "Boas Festas", sugestionado pelos elementos cênicos. Bem, os caras arrancaram forças do público deus-sabe-de-onde. A massa moribunda converteu-se numa horda saltitante, cantando letra por letra em alto e bom som. Impressionante! O som parecia ter sido ajustado para o show dos caras, apesar dos graves poderem ser sentidos na pele. Catarse coletiva. Hits que não saem da mente. A perturbadora notícia de que eles são mórmons. Um verdadeiro espetáculo!

Os artistas fizeram seu número e o público foi prejudicado por uma estrutura cretina que só visava o lucro em detrimento ao conforto dos pagantes. Tudo muito caro lá dentro e a palhaçada de tentar evitar, por exemplo, a entrada das pessoas portando chicletes (?!). A área vip, reservada à frente do palco para quem estivesse disposto a pagar o dobro pelo preço dos ingressos, afastava muito os ídolos dos fãs mais apaixonados e menos abastados.

No frigir dos ovos, o encerramento com chave de ouro do Tim Festival foi uma experiência bastante forte e bonita, mas que teve parte de sua relevância impactada pelo componente de sofrimento com as horas de atraso e a desorganização que puseram o físico do público à prova.

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sexta-feira, novembro 02, 2007

Funerária Alternativa

Estava escrito no letreiro. Juro. Preciso de um celular com câmera justamente para estes "momentos em que faltam as palavras".

- Será que eles vendem caixões com spikes?
- Ou então com rebite?
- Que alternativa o quê, minha gente? Qual é a alternativa? Já morreu mesmo...

quinta-feira, novembro 01, 2007

Björk vencida pelo roedor

Vinha para casa elaborando mentalmente um post sobre o Tim Festival, para comentar dos prós e contras do mega-evento e de como o show de Björk me fez pensar sobre a razão da existência, quando me deparei com uma micro-celebridade. Tratava-se do vencedor de salto em altura da última Olimpíada dos Ratos. Caminhava pelo jardim do meu condomínio, quando avistei o bichinho - bichinho, bondade minha, uma vez que o animal estava mesmo para uma capivara. Ávido por mostrar seus dotes esportivos de campeão, o rato saltou para dentro de um dos canteiros, conseguindo levantar um vôo de uns 40 centímetros, algo que eu jamais pensei ser possível para roedores desta categoria. Não me contive e soltei uma alta gargalhada. Não é todo dia que você dá um flagrante desses na evolução das espécies.

Björk fica para outro momento.