sábado, novembro 24, 2007

genialidade manguebeat

Chega um momento em que aquela música que você já conhece há tempos soa diferente. Algum acorde toca como uma epifania, daí saltam sons nunca antes identificados, referências e interpretações que estavam guardadas em alguma gaveta bagunçada do inconsciente, desperta uma nova beleza. Foi assim hoje (leia-se sábado, 24) com Criança de Domingo, do álbum Afrociberdelia, de Chico Science e Nação Zumbi.

A batida e a letra evocam uma ciranda, abraçada com uma balada rock (ou seria pop?) que continua atual. Como ninguém, o caranguejo Science sabia como fazer colidir o regionalismo com as manifestações mais-que-contemporâneas da música. É impressionante prestar atenção nos sons, no ritmo cíclico da canção e da melodia, ver o pop caminhar de mãos dadas com o tradicional. Sua voz soa como a de um cantador nordestino típico, contrastando com os instrumentos usados no arranjo, que por sua vez criam sutis contrastes entre si mesmos.

A música cria imagens de uma tranquilidade dos olhos de uma criança, uma certa ingenuidade diante do mundo e do tempo passar, em construções que solavancam o português culto, em que parecem faltar partículas, mas fornecem sentidos e provocam sensações para além do que se canta. E quando Chico se cala, sobe a voz dos instrumentos numa paz sem fronteiras, que aponta um utópico Nordeste livre de conflitos e consciente de sua beleza - cultural, natural, sem grilos com a contemporaneidade.

Para quem não lembra ou não conhece, segue a letra simples, lúdica, poética.

Eu sábado vou rodar
Criança de domingo
Sem saber guiar
Criança de domingo

Amanhã tem mais
Segunda é um dia lindo
Faça chuva ou sol
Amo o meu domingo

Eu sábado vou rodar
Criança de domingo
Faça chuva ou sol
Amo o meu domingo