terça-feira, novembro 13, 2007

Eu, monstro consumista

Para Cristiano Canguçu, que não aguenta mais me ouvir dizer que gastei dinheiro


Sou louca por sapatos. Só não sou mais, porque meu status econômico e uma raspa de consciência social não permitem. Mas tenho pares suficientes para me agradar e ser uma quantidade considerada supérflua. À maneira soteropolitana, talvez eu seja uma versão menos glamourosa e bem sucedida da Carrie Bradshaw, mas sinceramente espero não ir à falência por causa dos companheiros dos meus pézinhos. É bem verdade que meu gosto e minha disponibilidade estão beeeeeem distantes dos Manolo Blanc da jornalista mais descolada da América. Ainda assim, tenho um prazer todo especial em escolher, experimentar, e especialmente comprar sapatos.

Dia desses experimentei a peça mais extravagante de toda minha vida: um scarpin de salto agulha na cor beringela-cintilante. Esse eu não levei para casa porque seria um ato puramente perdulário, uma vez que não uso sapatos de salto fino (somente plataformas, salto anabela e outros gordinhos que dão segurança às minhas patinhas de Touro). Parecia o sapatinho de uma Barbie meio drag.

Mas a mais nova aquisição (depois de uma sapatilha vermelha e uma crocs roxa), é um Allstar com estampa floral de inspiração indiana. O primeiro tênis estampado da minha vida, que emoção! Tinha visto ele numa vitrine e achei um verdadeiro charme, superfeminino, divertido, despojado, gracioso, enfim... (um dos) sapato que eu gostaria que me definisse como pessoa. Neste dia, por alguns contratempos, fiquei apenas sabendo o valor do bichinho, mas não cheguei a experimentar. Fingi para mim mesma que eu esqueceria aquela adorável visão e a imagem imediata deles nos meus pés, que veio da mesma forma como aparece nos devaneios esfumaçados de um filme romântico das antigas.

Acabei mesmo deixando a história para lá, até que entrei na C&A ontem - SÓ PARA PAGAR A FATURA - e me deparei com várias estantes com Allstars que eu adoraria ter: roxo, verde piscina com detalhes em rosa, florais... E lá estava o meu floral indiano! Na primeira passagem, resisti, mas na saída, já com cartão pago, fui atraída como um imã. Eu só ia experimentar, algo que comigo funciona sob a mesma lógica de "pôr só a cabecinha". Catei meu número sem dificuldade, calcei, olhei no espelho e me lembrei de uma matéria que acabo de fazer sobre a questão do consumo consciente. Pronto! Tava armada a batalha entre o anjinho e o diabinho dentro da minha cabeça. E dessa vez o anjinho tinha a cara do Cris.

Fui então voltando com os tênis para a prateleira, devolvê-los para o lugar de onde eles jamais deveriam ter saído para passear. "Você é assim: consegue ter exatamente as coisas que quer, mas aí abre mão para ter a certeza de nunca estar satisfeita", disse algo dentro de mim. Fiquei que nem uma estaca enfiada no chão diante dos tênis. Pensava na quantidade de sapatos que já tenho, mas o quanto aquele floral era diferente. Era o saldo da conta bancária contra a possibilidade de parcelamento. Era Cris dizendo 'o que importa é o que está dentro de você'. Mas esse Allstar é tão bonitinho, vai fazer tão bem à minha feminilidade... E afinal de contas meu Allstar preto tá ficando feio e velho mesmo. Precisar, mesmo, eu não preciso deste tênis. Ai! E agora?

(nisso, o tempo ia passando e meu atraso pra chegar no trabalho ia virando um poço sem fundo. eu podia sentir o tempo se transformando em uma coisa viscosa sob meus pés e nas minhas mãos. que merda é essa que está acontecendo? parecia que eu estava mergulhada numa viagem lisérgica dentro daquela estampa, porque o mundo ao redor tinha parado e mil coisas continuavam acontecendo freneticamente nos meus pensamentos)

FODA-SE! - De que adianta trabalhar tanto se não é pra gastar nas coisas que a gente gosta?

Pronto, agora mais do que um par de tênis bonito, carrego um símbolo todo pessoal nos pés. Uma verdadeira batalha, que até agora não sei se ganhei ou perdi. Podia mandar tatuá-los com as tais flores, para eu nunca mais esquecer dessa lição.

Que lição?

2 Comments:

At 3:56 AM, Blogger Cristiano said...

Sua, sua... monstra consumista! :P

Na verdade, eu também tenho meu lado consumista desenfreado. Tenho comprado tantos livros e dvds que não assisti sequer à metade.

Preciso tomar vergonha na cara e parar de comprar livros e lê-los mais.

 
At 5:00 PM, Blogger Unknown said...

Lição de hoje: não subestime a C&A!

 

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