sábado, novembro 03, 2007

Tim Festival em São Paulo - o grande dia!

Passam das 23h30. Estou surpresa pela quantidade de ônibus que ainda vi na rua, enquanto voltava para casa a pé. Num dia de sábado, feriadão, ver ônibus nas ruas de salvador depois das 22h é quase tão espetacular quanto a aparição da Virgem. Deixei uma amiga paulista dentro de um táxi, saindo do ponto mais boêmio da cidade e ela observava, incrédula, como as pessoas não interagiam ao ar livre, emparedadas por suas rodinhas e mesas. A verdade é essa: baianos não são comunicativos. Quando muito, somos entrões e mal-educados.

Pois bem, os shows do Tim Festival...

Grande evento, concentrando todas as atrações que eu gostaria de ver onde quer que estivessem: Björk, Juliette and the Licks, Artic Monkeys e Killers. Dei muita sorte da grade colocá-los juntos, justo em São Paulo, onde tenho tantos queridos.

Cada um à sua maneira, grandes shows. O de Björk abriu a série dos mais aguardados, após as desastrosas apresentações do Spank Rock (um verdadeiro vexame) e do Hot Ship (dispensável, mas mais comprometido por causa de falhas no som). Com cenário exuberante, grande investimento em figurino, firulas e mágica cênica, a deusa esquimó da música contemporânea encheu os olhos, ouvidos e corações dos milhares presentes, entrando com Earth Intruders e seguindo com as belas canções de álbuns anteriores como o Vespertine. Verdadeiro espetáculo, emocionante, mas que seria privilegiado com um espaço menor e mais aconchegante para vermos os detalhes. Em meio às músicas, me peguei de mãos na cabeça olhando para os céus a me perguntar de que galáxia vinham aqueles sons, ao mesmo tempo em que agradecia por estar vivendo aquele lindo momento entre grandes amigos. Me perguntei sobre o destino da vida e se era possível ir além em termos de felicidade.

Depois veio Juliette Lewis e seus machos com a esperada performance rock'n'roll que Vega jura ser pura interpretação. Não creio. Como eu gostaria de ver: muito suor e energia, ela louquíssima a se atirar no chão, arrancar peças de roupas e fazer cara de demente, enquanto cuspia suas letras a plenos pulmões e exclamava estar realizando a vontade de vir ao Brasil mostrar seu rock de moleca. Ok, clichê, mas ganhou o meu coração e do resto da galera. O som não ajudava muito, já que a princípio era quase impossível ouvir seus vocais. Mas Juliette é massa!

Os intervalos entre os shows foram de apavorar - alguns deles, inclusive, chegaram a ser mais longos que as próprias apresentações. Uma lástima. Antes do show do Artic Monkeys eu já me sentia em frangalhos, conhecendo novas facetas da dor com os pedidos de clemência dos meus pés, da minha coluna e dos meus ombros por causa da bolsa. A fome também foi de lascar, nada ajudada pela falha estrutura de bar e lanchonete montada no local, que chegou a nos fazer atravessar os 800 mil metros que separavam as duas alas em busca de comida e algo para beber. Ah, e em determinado momento, mal chegava à metade do evento, faltou água, cerveja e o diabo. Coisa feia, muito feia!!!

Daí que no show dos Artic Monkeys, com a energia drenada, me sentei no chão ao fundo, mal ouvindo a banda, assentada em meio ao monte de lixo descartável abandonado pela multidão. Ao que parece, os meninos não se saíram muito bem. Quem muito esculhambou a performance foi Rodrigo que, é bem verdade, já tinha ido com uma disposição abaixo da média para conferir a banda. O cenário era nada e a energia no palco também não era das melhores. Eles também não pareciam estar dando o melhor ali em cima.

Por fim, já eram mais de 4h da manhã - originalmente, os shows deveriam ter terminado às 2h - o Killers subiu ao palco montado com árvores e luzinhas de Natal, tendo escrito ao fundo com letras luminosas Sam's Town, que Vega leu "Boas Festas", sugestionado pelos elementos cênicos. Bem, os caras arrancaram forças do público deus-sabe-de-onde. A massa moribunda converteu-se numa horda saltitante, cantando letra por letra em alto e bom som. Impressionante! O som parecia ter sido ajustado para o show dos caras, apesar dos graves poderem ser sentidos na pele. Catarse coletiva. Hits que não saem da mente. A perturbadora notícia de que eles são mórmons. Um verdadeiro espetáculo!

Os artistas fizeram seu número e o público foi prejudicado por uma estrutura cretina que só visava o lucro em detrimento ao conforto dos pagantes. Tudo muito caro lá dentro e a palhaçada de tentar evitar, por exemplo, a entrada das pessoas portando chicletes (?!). A área vip, reservada à frente do palco para quem estivesse disposto a pagar o dobro pelo preço dos ingressos, afastava muito os ídolos dos fãs mais apaixonados e menos abastados.

No frigir dos ovos, o encerramento com chave de ouro do Tim Festival foi uma experiência bastante forte e bonita, mas que teve parte de sua relevância impactada pelo componente de sofrimento com as horas de atraso e a desorganização que puseram o físico do público à prova.

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