quinta-feira, novembro 08, 2007

Pequenos Fenômenos

Diz a tarde: Toda manhã já foi madrugada
Na voz de Mariela Santiago

Hoje aconteceu um troço bem esquisito comigo. Estava no ônibus, já para saltar, com os braços estendidos em cruz, a mão esquerda segurando uma das barras verticais de apoio do banco do passageiro, a direita numa das horizontais que ficam presas no teto. Do nada - aparentemente coincidindo com o momento em que uma outra passageira pressionou o botãozinho de pedir parada - senti uma descarga elétrica percorrer toda minha envergadura, traçando uma trajetória clara da direita para a esquerda. Foi rápido, discreto e assustador. Depois disso, sem absolutamente nenhuma dor, machucado ou sequela, saltei do ônibus como se nada tivesse acontecido, mas completamente encafifada. Lembrei na hora do que minha avó sempre dizia: para morrer, basta estar vivo.

Aí nessas horas a gente começa a pensar um monte de merda. E outras coisas bem sérias também e cheia de sentido. Lembrei da história que me contaram outro dia, de que tinha uma galera curtindo uma festinha em casa, daí um carinha descobriu que a geladeira estava dando choque (mais ou menos como aquela propaganda da Skol). O esperto então resolveu ficar apoiado na geladeira, de forma que ele não levava choque, mas triscava nas pessoas e elas recebiam uma leve descarga. Hahaha! Muito engraçado. Até que um dos convidados, no momento em que foi submetido à tal pegadinha, sabe-se lá por que razão idiota, teve um treco e morreu. Caiu ali mesmo, durinho, e acabou com toda a graça da festa - e deixou o palhaço traumatizado, naturalmente.

Enfim, fiquei pensando na fragilidade das coisas. Tipo, você leva uma vida regrada, cheia de cuidados, atendendo desde as recomendações da sua mãe, até as advertências do Ministério da Saúde. Não dirige depois de beber, faz todos os exames periódicos, atividade física, alimentação balanceada com todos os nutrientes, não fuma, não anda sozinho na rua depois de horários suspeitos, só trepa com camisinha, até que um dia, sem nenhum aviso... o avião da TAM cai na sua cabeça. E o tsunami? Quem é que espera pelo tsunami? Uma massa d'água que lambe para o nada um pedaço de paraíso litorâneo. Assim, out of the fuckin' blue.

A gente tem que se preocupar com o que, afinal? O tempo todo as pessoas tentam se apegar a certezas, materiais ou não, ao passo que a vida, em sua espiral entrópica, dá provas de que existir se sobrepõe a qualquer lógica. Vejo meu brinco novo de prata e lápis-lazuli descolado, a passagem da BRA que não foi reembolsada, os saltos dos sapatos caríssimos que descascam depois de alguns anos de uso, meu rosto, os dos meus amigos e o do Morrissey alterados nas fotografias recentes e é como se tudo isso fosse prova da inevitabilidade do tempo, da perecibilidade do mundo, da necessidade de viver como se não houvesse amanhã, mas sempre guardando um pouquinho pra mais tarde.

Nem sempre temos certeza de onde queremos chegar. Seguir o caminho é inevitável.

1 Comments:

At 8:10 AM, Blogger Bela said...

"A gente tem que se preocupar com o que, afinal?"
Com porra nenhuma além do momento presente! Mas, como isso é impossível, o melhor é se preocupar apenas com o que vc de fato pode ter algum tipo de previsão ou controle. Como as contas no banco, o que vc coloca no seu prato, a maneira como tratamos as pessoas. E essas preocupações, acredite, já não são pouca coisa.

 

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