domingo, outubro 21, 2007

Uma outra missão diplomática via Nave

Disse meu horóscopo que meu magnetismo sexual andava em alta. Passos largos pelas ruas, pés metidos em coturnos, saia cinza de colegial. Qual trabalhador da noite baiana não mexe com uma criatura dessas? Comentários, risinhos, tratamento mais assustador do que quase lisonjeiro. Até a abordagem de um grupo de adolescentes vendedoras de amendoim apareceu pra querer passar a mão e me chamar de gostosa. Eu disse vendedorAs.

Sair à noite dá sempre uma resenha. Seja pelas peripécias infantilizadas de uma bebedeira homérica, seja por estar sóbria demais para não deixar nenhum pitoresco detalhe da vida passar. Magnetismo sexual, sei. Só pode ser porque eu crio um campo ao meu redor. Devo ser alguma encarnação canhestra de algum tipo de deusa do amor. Esfregue um pouquinho o meu braço e você vai saber do que estou falando. Deixe a cigana Sara pra lá, economize tempo e dinheiro, saia comigo por aí, que o amor demora apenas algumas horas para aparecer. Não precisa nem ter fé, o melhor é isso. Funciona, simples assim.

Em poucas horas de festa, hordas se agarram ao meu redor. São rituais que me alimentam, começo a entender assim e me alegrar por isso. Deuses não têm sexo, cara. Uma ou outra cultura pinta assim e torna a mitologia divertida. E sempre tem algum amigo por perto para se deixar levar na onda quente dos desejos afetados. Basta uma esfregadinha qualquer - não precisa ser no braço, nem mesmo intencional - e o tal do amor pega a pessoa e vai embalando na pista. A coisa esquenta.

Pus os olhos no Campeão. Sujeito de olhos tristes, com cara de homem que não é daqui. Paradão, ouvindo muito sem dançar. Talvez um daqueles tipos que só deixa a música entrar quando o álcool lhe afrouxa as portas. A distância foi diminuindo, por vontade própria ou pela vontade da pista. Nenhum movimento concreto. Teria sido uma longa troca de olhares? Então ele começou a passar a mão no rosto e coçar a barba. Uma urticária tremenda. Poderia ser alguma reação alérgica ou a coragem pedindo passagem, o desejo de tomar alguma atitude. Se coçou, se coçou, se coçou... Passou uma eternidade e nenhum evento.

Eu acho que é gay, cochichou minha acompanhante. Não, não era. Se fosse, teria vindo em minha direção. Eu sei dessas coisas. São os meus maiores devotos - e os que recebem mais graças também.

A aventura terminou com uma fria bênção da Rainha da Inglaterra. British winds blew shortly in my direction.