V de Vingança
Ontem vi V. Não tinha grandes nem pequenas expectativas, mas queria muito ver. Isso é bom, porque dá uma certa isenção para absorver o filme. Outra coisa que é bom ressaltar é que eu não lembrava nada na história, não sei se pelo fato de ter lido há uns 9 anos, se por uma dose de falta de interesse por tramas políticas ou simplesmente por causa de um déficit cognitivo qualquer. Enfim, não vou ficar naquela velha disputa entre o original e a adaptação, que acho sempre meio esquizofrênica.
O filme demora um pouco a engatar e uns clichês de trilha sonora para criar certos climas aborrecem um pouco, mas Hugo Weaving sob a máscara de Codinome V cativa desde o primeiro instante. Já havia lido comentários sobre a qualidade de seu trabalho a despeito da falta de expressão facial, mas é mesmo surpreendente, porque seus movimentos são sutis e nem de longe lembram aquele exagero Changeman de braços e cabeças balançantes - o que seria fácil pensar. O acento na voz dá a pontuação correta nas intenções do elegante e vingativo personagem. Impossível não ficar ao lado de um terrorista tão poderoso e cheio de charme.
Poderia ficar aqui escrevendo por horas sobre o desempenho de outros destaques do elenco, como Natalie Portman - cuja personagem passa de uma coragem frágil a ativista destemida pelo batismo da tortura - e Stephen Rea - com sua expressão atormentada e melancólica. Só por estas interpretações, o filme já vale a pena.
Pois bem, quando o filme deslancha e começam a aparecer mais suas idéias, é muito bom. Dá até para relevar certos maneirismos holliwoodianos irritantes, como a criação de um romancezinho, desbunde de efeitos especiais nas lutas e didatismo na construção do herói. O que fica marcante mesmo são as noções sobre o que pode causar uma mobilização coletiva, o questionamento do poder do Estado em dar ou tirar a paz dos cidadãos (o papel da mídia aí dentro) e a inquietante afirmação de que "a violência pode ser usada para o bem". Muito interessante pensar sobre esses assuntos no atual momento político mundial.
Uma boa estréia para o menino James McTeigue, apadrinhado dos pirotécnicos irmãos Wachowski, porém, a assinatura ainda não é perceptível. A direção não se destaca, exceto pelas cenas finais, que são belíssimas. Talvez seja só uma questão de tempo.
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