... em casa, três cervejas depois
Pronta para o baile. Maria-chiquinha, saia vermelha rodada, peitos empinados, louca para dar. A menina conta as horas, conta os homens, manda torpedos com cantadas flamejantes enquanto espreme um joelho contra o outro. Não, agora não é desejo, é só vontade de fazer xixi. Sonha com caralhos rosados e noites úmidas que nunca foram passadas sobre camas de dossel. É uma vontade quase virgem, em que os príncipes encantados continuam sendo brancos de olhos azuis - mal sabe que a maior chance é que mãos negras e lábios negros carinhosos percorram seu corpo antes que possa dizer ABRACADABRA.
Ela devaneia com uma viagem à capital. Uma viagem de ácido, mas só de pensar na droga suas faces ficam em carne viva, tamanha prudência e recato dos seus hábitos - mesmo os mais secretos.
Abre a porta e já se vê com um cigarro na mão. É tão equivocada, coitada, que poderia tentar acendê-lo pelo filtro antes de se engasgar com uma baforada mal-tragada. "Se tudo der errado, chupo seu pau no carro no final da noite e todo mundo sai ganhando", sugere ao garoto que gosta de garotos. Sua coragem jamais deixaria que essa frase tivesse chance de ser levada a sério.
Então parte. A noite a envolve entre suas asas embriagadas de estrelas apagadas sob as nuvens rosa de chuva. E a menina começa a dançar.
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