sexta-feira, setembro 21, 2007

É tudo sexo na cabeça

Chega de surpresa com seu cheiro de cigarro e banho tomado, misturado ao longe com duas gotas de suor. Me pega indefesa num desses dias de cio calado e me põe a beber suas palavras pelos olhos. Sua voz é o som que sai da flauta do encantador de cobras. Mal posso acreditar quando seus braços me envolvem por brincadeira, numa intimidade que entrou arrombando portas com a gentileza de um lorde inglês. Em dois minutos já podemos falar do quanto gostamos de pornografia e deixar que a tarde venha. Perdem-se os ponteiros, alarga-se a folga das idéias, surge poesia nas frestas dos assuntos triviais.

Ao sair de seus domínios, me deparo diante de uma porta de ônibus que se abre oferecendo o frescor juvenil sem camisa e cabelos lisos soltos no rosto. Se fosse eu homem, a visão seria uma piscadela da calcinha branca entre as pernas de uma virgem. Os segundos passam e eu fico presa por aquela imagem que faz um reveillon de feromônios. Um sorriso sedutor escapa de seus lábios perfeitamente insolentes. Peito, barriga, calça baixa e a barra da boxer à mostra, ele é o dono do pedaço. Mais segundos passam e eu quase perco o rumo. Ai, se eu perco meu ônibus por causa daquele adolescente, exclama o pequeno ditador de dentro da caixa craniana.

Noite. Meus olhos alcançam a outra calçada muito antes de mim, fazem um scan completo no estranho e o seguem. Mais lento, meu corpo vai junto e o segredo se desata. Não é um estranho, mas aquele doce abraço conhecido, que vem se perpetuando nos últimos 10 anos com intervalos longos que viram hiatos nos reencontros. O mesmo sobressalto envolvente, o interrogatório veloz em frases cadenciadas numa fala melodiosa. Pequenos enigmas e olhares profundos conduzidos por sorrisos sinceros. E um beijo. Surpreendente, entregue, de duração indeterminada. Um selo de devaneios.

No dia seguinte, o desejo está dentro da televisão. Antes do visual emo serem os emos, sempre me amarrei em homem de maquiagem. E bem antes do Jared Leto ser ator, eu já amava seus olhos verdes, boca bem desenhada e cabelos castanhos. Agora, minha gente, isso aí já é apelação demais.


30 seconds to Mars, a banda do moço.
Não, vc não precisa prestar atenção na música