sexta-feira, setembro 28, 2007

Crio aranhas

Isso mesmo. Não é bem com o amor e intimidade de uma mãe de gato doméstico ou cachorro de raça, mas dou ousadia às minhas bichinhas. Mantenho o equilíbrio do ecossistema de minha casa sem tanger e matar as magrelas que se espalham pelo teto e devoram pequenos insetos - eu realmente acredito no seu poder contra muriçocas e micro-baratinhas em fase de pré-crescimento.

Minha mãe diz que é descuido. Minha tia fala que eu deveria me envergonhar. A empregada delas ri da minha falta de preconceito. E eu comento que problema mesmo é a poeira que se acumula em gomos sobre as teias. Ok, isso sim é feio. Mas confesso que me sinto orgulhosa por ver o crescimento das aranhas com perninhas que mais parecem traço-grafite com seus ventres de ponto-final. Agora mesmo uma passou aqui na parede, à altura de meu ombro, carregando uma pequena múmia de fina seda. Foi levar marmita pro namorado, aposto.

Fiquei assustada quando vi a primeira cria. Parecia uma mancha de mofo no encontro do teto com a parede. Só depois me dei conta de que era uma população cinzenta de minúsculas aranhinhas. Bizarro. Tive de intervir com o Ministério da Vassoura para promover o controle populacional, caso contrário, era capaz de sofrer um golpe da massa e ser atirada para fora do meu próprio apartamento. Aliás, o primeiro Ministério da Vassoura foi destituído por uma ação dissimulada e efetiva do partido dos Cupins, ou das Brocas, não sei direito, que agora partiu para o ataque contra a Assessoria do Apanhador. Há rumores de que estão se reunindo em outros pontos da casa para realizar uma tomada drástica, como nem mesmo as aranhas sonharam.

O Movimento das Baratas há dois meses atrás realizou uma marcha estrondosa, com pequena adesão, é verdade, mas que mereceu grande atenção da mídia. A articulação - que ironia - foi logo desbaratada com uma ação conjunta do Ministério do Chinelo e da Secretaria Especial do Inseticida. O episódio causou arranhões na imagem da Dona da Casa, que admitiu a necessidade de uma revisão nas normas administrativas da reciclagem a fim de evitar a repetição deste tipo de problema no futuro. Já foi redigido um novo estatuto que está em tramitação, mas até agora, estão sendo adotadas somente medidas em caráter emergencial. A Superintendência de Organização da Cozinha, inclusive, já tem um parecer que aponta também irregularidades no tratamento da louça suja na pia.

Preciso tomar providências de imediato, remanejando e lançando mão dos recursos e do orçamento disponível para o atual plano de governo. Isso porque, se as baratas voltarem, em número maior e mais fortalecidas só mesmo uma caranguejeira poderia me ajudar. E não podemos deixar que a soberania seja ameaçada desta maneira.

1 Comments:

At 4:43 AM, Blogger Gustavo Libório said...

Muito bom!
Muito Bom!!
Muito BOM!!!
Beijos Juju
Guga

 

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