Impublicável
Perversão, pornografia, palavras chulas, de baixo calão, desvarios libertinos, textos infames. Minha idéia sobre o termo "impublicável" sempre passou por esses caminhos. Impublicável soa sórdido, vil, quase não-humano. Bizarro a ponto de não poder sair da cabeça de quem pensou. Não valer, literalmente, a pena. Jamais poderia ser escrito.
Até bem pouco tempo. Até me dar conta de sensações tão sublimes e reveladoras que... impublicáveis. Não podem ser expostas por zelo e cautela. Frágeis como as pernas da pequena aranha que caminha na dobra do teto do meu apartamento. Impossíveis de serem expostas ao espocar dos flashes dos olhos alheios, ou cutucadas pelo incômodo das interpretações de outrem.
Ao contrário da explosão monstruosidade moral que era atribuída por mim ao "impublicável", esta nova noção vem cheia de uma beleza tão impalpável, que chega a ser agressiva. Ofusca, por tangenciar o incompreensível. Em comum, a característica imaterialidade, a quase não-humanidade.
Guardo, não publico. Mordo os lábios, travo a língua. Olho para os lados sorrateiramente, para que ninguém escute o barulho dos meus cílios ou o ranger dos pensamentos. Como o personagem de Cazuza que prendia o choro e aguava o bom do amor. Escondo com um gesto de menina que estica a saia até os joelhos para ocultar a vergonha em babadinhos de tom pastel.
Ando assim, nada que possa ir parar em páginas ou janelas.
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