terça-feira, setembro 02, 2008

MADRAMMA


Como vocês já devem estar sabendo, o sauceiro provocado pela compra de ingressos para o primeiro dos shows de Madonna no Brasil botou a notícia da burguesia de chinelos que virou a noite na frente do TCA para ver João Gilberto no bolso. São coisas bem diferentes, sem dúvida. Em proporções, valores, para não mencionar a seara artística. E eu estou no bolo dos embrulhados com os ingressos da diva.

Segunda-feira, 1º de setembro. Na verdade, são dez para meia-noite, ainda não é setembro. Começo a acessar o site da empresa responsável pelas vendas online para o show da popstar. Em outras duas casas, dois amigos meus, T e R, compartilham a mesma expectativa. Para não ficar aqui entrando nos pormenores de lentidão do site, número de vezes em que fui até a última etapa da compra e não consegui concluir porque o servidor estava sobrecarregado e as ligações angustiadas de ambas as partes, vou pular direto para as 2h37 da manhã.

Na minha cabeça, prevendo do que se tratava, sabia que realmente haveria alguma dificuldade e lentidão, mas estava certa que concluiria a compra até por volta de 1h30 da manhã. Repetindo: calculei prevendo atraso e demora. A verdade é que às tais 2h37 nenhum de nós três havia conseguido comprar o ingresso e T (descabelado) já tinha se mudado aqui para casa por minha conexão ser mais rápida. Eu, que dos três tinha conseguido ir mais longe - digitando todos os dados do cartão de crédito e avançando até uma tela de confirmação de compra- continuava sem ingresso e sendo a voz a anunciar a dura realidade. Era como num episódio de ER: depois de horas tentando ressuscitar o paciente, alguém registra o horário do óbito. O servidor havia caído por volta das 2h.

Fomos dormir para, a partir das 6h, começar a tentar a compra por telefone. DDD pra São Paulo. Recomeçou a maratona. Levantei às 6h20 e não sei quantas vezes T já tinha tentado efetuar a compra. Chegando a ser atendido, a ligação caía. Desistimos do telefone, voltamos ao site. Às 6h30 R ligou informando que acabava de comprar seu ingresso. Acordei minha colega e pedi seu laptop emprestado. Tínhamos agora dois computadores na guerra dos acessos. Às 7h30, finalmente consegui comprar o meu. T tentou até às 14h sem sucesso. Ambos chegamos até bem pertinho do final da linha algumas vezes, mas só eu recebi o código de confirmação de compra e o e-mail de "parabéns, você conseguiu". Achar vale-brindes chupando mil picolés parece ser mais fácil e divertido.

No mesmo dia, visitei alguns sites de notícias para saber como andavam as vendas. Me consolou um pouco saber que a falta de sorte não era pontual, mas um abacaxi de proporções bíblicas envolvendo o país inteiro. Ao mesmo tempo, foi desesperador saber que várias pessoas tiveram a cobrança dos ingressos multiplicada pelos erros do site.

No momento, T tem três ingressos no cartão de crédito e nenhum nas mãos. Eu tenho um ingresso e três cobrados. Nenhum de nós tem o contato da empresa que, segundo as operadoras, deve ser acionada para emitir um comprovante a fim de extornar os tais débitos. Bizarro.

Estou relativamente tranquila porque sei que pela quantidade de pessoas lesadas em todo o país, é impossível que fique tudo por isso mesmo. Mas estou morrendo de dó de T, que está somente com o problema e sem nenhuma garantia de diversão - depois de ter passado umas dez torturantes horas.

Detalhe é que o problema todo foi ocasionado por uma falha muito simples: o servidor não aguentou o tranco. Será possível que a empresa responsável pelas vendas não foi capaz de dimensionar a demanda de um público que há 5 anos não vê Madonna no país? E ainda no ano em que a mulher completa 50 anos? A burrada foi tão grande, que ao longo do dia eles anunciaram que os ingressos haviam se esgotado, mas depois disponibilizaram 5 servidores diferentes para que o público continuasse comprando. Hoje, às vésperas de começar a venda para os shows de São Paulo, o número subiu para 25. É espantoso deparar com esta falta de preparo.

E como se não fosse o bastante, a cereja do bolo fica por conta da tal "taxa de conveniência" de 20% - que pode chegar a R$ 120 para quem compra pista VIP inteira - uma extorsão descarada, já que não inclui entrega - o SEDEX ou até mesmo para ir buscar na bilheteria você paga por fora - e ainda causou esse transtorno e perda de tempo desgraçados em milhares de pessoas.

Tenho certeza que em dezembro tudo isso vai ser diluído na satisfação de ver um dos shows da Sticky and Sweet tour. Mas até lá, eu quero sangue e indenização!