quinta-feira, agosto 24, 2006

O Romantismo que me dá nos nervos

Ser "muderno" e ser romântico são duas coisas que não combinam, de acordo com a polícia do bom gosto. Quer dizer, se for emo, tá valendo. De cara, isso corresponde a dizer que romantismo tem prazo de validade e combina com o ridículo da adolescência - sim, porque adolescentes são ridículos, somente eles, os pais e os pedagogos para levá-los a sério. Gente comum, passada a fase, se dá conta disso.

Pois bem, a cafonice e o demodê foram de tal forma incorporados à idéia de romantismo, que ninguém mais quer se admitir romântico. Lembro de uma amiga minha que tinha pruridos só de ouvir a palavra, mas quando conheceu a coisinha do coração, disse que gostaria de dividir todos os seus livros e discos com ele. Isso é ou não é romântico?

Eu, cá de meu lado, acredito no romantismo sim. Acho que o romântico tem a ver com coisas muito belas. Me assumo como pessoa romântica, ainda que uma pequena dose de cinismo, as desilusões amorosas e o corre-corre de todos os dias tenha roubado todo o meu estímulo e criatividade neste campo. Mas acho que você pode ser romântico de coturno, pós-graduado em cibercultura, dj da última moda ou estando dotado de qualquer outro selinho pós-moderno que o valha.

A questão é que há, de fato, a vertente do romantismo piegas, feito de açúcar, baba de moça e vestido rococó de heroína de novela de época. Acredito até que tenha lugar pra ele - aliás, há lugar pra tudo no mundo, o que dói é o exagero. E este romantismo sim é o que me dá nos nervos, na sua exploração excessiva, na barra forçada de enfiá-lo em tudo que há na vida, como se fosse obrigatório para a existência humana. Um dos campos em que isso aparece bem e realmente me tira do sério é o tal do cinema hollywoodiano.

Há alguns posts atrás comentei um filme que ia até muito bem, até descer ladeira abaixo nos clichês românticos. Pensando rapidamente, consigo lembrar de pelo menos duas outras obras em que o mesmo problema me chamou a atenção: uma das continuações de Matrix e V de Vingança. Em todos esses casos, existe uma trama engendrada por uma causa humanitária, na qual estão engajados um homem e uma mulher que partilham dos mesmos ideais. Segundo a lógica desse formato babaca do amor romântico, não pode haver um outro sentimento maior entre um casal que não seja a paixão. Porque, nos dois filmes, o desejo erótico passa fácil por cima da admiração pelo herói enquanto alguém que batalha por uma idéia.

Vejamos: no Matrix a que me refiro (creio que seja o Revolutions), a morte de Trinity, que deveria ser de uma guerreira, passa a ser em defesa da vida do ser amado. Amado como homem, não como herói. Damn shit! De guerrilheira, a personagem desce à categoria de mulherzinha! Já em V de Vingança, na minha opinião, aquela revelação final de amor dilui um bom pedaço do caráter dos personagens. Discretamente, isso me deixa possessa.

No final das contas, como se não bastasse a banalização patética do amor, da paixão e do tal do romantismo, não é exagero dizer que as tramas perdem o sal ao escancarar o que poderia ser uma incerteza - uma tensão sexual não esclarecida ou resolvida entre personagens poderia instigar muito mais o público e sua imaginação fértil.

Durona coisa nenhuma. Eu adoro histórias de amor. Mesmo. Com ou sem drama. Há várias que me comovem - seja alto-astral, como Amélie Poulain, seja melancólica, como As Pontes de Madison ou mal-resolvida, como Felizes juntos. Outras nem tanto. Mas confesso que estou cansada dessa exacerbação da importância do sentimento amoroso. É como se não houvesse mais nada na vida. Lá se vai política, a poesia, a amizade, a violência e uma porrada de outros temas que muitas vezes são diluídos nessa água com açúcar.

Amor, faço questão que seja de verdade. E que não me deixe de fora de tudo que acontece no mundo.

3 Comments:

At 9:37 AM, Blogger Bobbie Ladyamnesia said...

Nunca fiz o estilo garotinha romântica. Nem faço muito o estilo garotinha mesmo... E após ter o coraçãozinho partido por coisas tão mundanas, entendi que esse amor que a gente vê em filme e novela [...], sequer é real. Amor é outra coisa. E cada um que descubra o seu.

 
At 12:56 PM, Anonymous Anônimo said...

Achei romantismo em "Miami Vice". Lindo o adeus de Gong Li e Colin Farrell.

"All we need is love", diz Ewan em "Moulin Rouge"...

 
At 8:55 AM, Anonymous Anônimo said...

Gong Li está em Miami Vice??? Caráleo!

 

Postar um comentário

<< Home