terça-feira, junho 27, 2006

os óculos de Dali

Do ônibus, pela rua, em cada esquina inventava de reconhecer um rosto. Ilusões de ótica que não sobreviviam a um olhar mais atento. Formas distorcidas de amigos e conhecidos, a visão a todo custo querendo repousar sobre um território já dominado. Ninguém para trocar nenhuma palavra. Nem mesmo um sorriso. Uma caminhada viciada em silêncio para aprender a guardar palavras e burilar pensamentos. Polir cada um deles com ares de artesão. Até que a mente sufoca e começa a... Ver dois motoqueiros se beijando. Digo, um motoqueiro e seu carona. Aliás... vista truncada de novo. Mais adiante, um cachorro que late pela bunda. Não, não. São dois cães e o que está de costas permanece calado. Aquela sua amiga, ao longe! E à medida em que se aproxima, torna-se mais baixa, mais rotunda, mais velha. Não é ela. Seguiram os olhos tropeçando, adiantando passos aos saltos errados, divertindo as idéias por ver o mundo como através de espelhos retorcidos. Imagens se sobrepondo atrapalhadamente, uma gagueira visual. Confuso no lusco-fusco entre os carros e os malditos postes de luz laranja. À noite todos os gatos são pardos - o que quer dizer que com pouca luz toda mentira pode ser verdade. Com esses olhos que a terra há de comer!