sábado, março 22, 2008

(des)Encontros

Já eram quase seis da manhã. Nós dois, nus na minha cama, conversávamos sobre músicas, filmes, viagens, desejos realizados e pequenos sonhos de consumo. Tinha meu braço ao redor dela e sua mão pequena espalmada no meu peito. Quando ela falava, eu olhava direto para seus olhos pretos e sua boca. Ela já tinha mencionado ir embora duas vezes desde tínhamos dado o último suspiro da transa. Eu não queria que ela fosse. Me sentia tranquilo ali, passando as pontas dos meus dedos em sua pele macia. Ela também parecia querer ficar, já que não deixava o assunto morrer. Sorrimos várias vezes.

Até que o sol ficou mais quente e ela levantou preocupada. Seus pais não poderiam saber que ela dormiu fora de casa. Isso era curioso. Em nenhum momento eu havia me dado conta que tinha trazido uma garota para o o meu covil. Me sentia tão menino quanto ela, meio embriagado, meio alegre, meio sedutor e sozinho. Ela tinha o carro. Ela me chamou para deixar o bar com pequenos gestos sacanas.

Ao lado da cama, ela se vestia sem pressa, mas com convicção. À luz do dia, pude dar uma boa olhada em seu corpo. Não era nada excepcional, sem muitas curvas. Peitos pequenos e até um pouco murchos, mas que tinham me deixado satisfeito por tê-los em minha boca. Sua beleza estava no frescor de quem passava há pouco pela adolescência. Estava em ser ela.

Sorrindo comigo mesmo, alcancei com a mão a carteira de cigarro. Perguntei se ela se importava, fez que não com a cabeça, tentando disfarçar o incômodo visível em sua face, esgueirada entre suas mechas pretas escorridas. Seu rosto era, definitivamente, doce e bonito. Ainda que suas mãos e sua boca não soubessem bem o que fazer, ela me encheu de prazer com seus sons. Havia tempo não me sentia um descobridor conduzindo uma pequena aventureira. Ela tinha potencial. Seria questão de tempo para ela me virar do avesso.

Acompanhando seus movimentos de partida, imaginei que, como todas, é provável que ela fosse querer demais. E eu não toleraria seus percalços juvenis - família, horários, mudanças de fases. O ímpeto de abraçar o mundo. Com toda aquela mansidão dengosa, ela seria problema. Seu corpo me dizia isso, enquanto ondulava emoldurada pela fumaça do meu Carlton.

Ele me assistia da cama com seu olhar maduro. Eu tentava fazer tudo sem aceleração para não deixar claro que sentia como se estivesse fazendo algo de errado. A luz da manhã me deixava mais nua do que eu gostaria de me sentir e agora eu tinha vergonha de meu corpo tão exposto. Na hora de me despedir, vou beijá-lo no rosto. Não quero que apareça que dei importância demais a este encontro. Foi bom. Eu gostaria que acontecesse de novo, mas eu sei que ele é problema. Essas roupas descoladas e a fala de poeta...

- Gostei de passar a noite com você, mas agora eu realmente preciso ir.

Parece que ela hesitou ao se despedir. Fiz questão de dar-lhe mais um beijo na boca, sentir novamente aquela umidade suave.

Ele me beijou. O que isso significa? Preciso tirar isso da minha cabeça. Sempre acabo com o coração partido por homens dizem gostar de jazz.