quarta-feira, março 05, 2008

Arquitetura à Baiana


Alguém devia mandar prender - ou pelo menos cassar a carteirinha do conselho - o arquiteto que bolou o Centro Médico Empresarial da Garibaldi. Com uma fachada e nome gigantescos, não há nenhuma indicação do número - depois achei-o, numa das entradas, com letras menores e meio escondido. Tudo bem que em Salvador pouco se usa numeração para indicar endereços, mas isso é um detalhe quase sem importância perto do labirinto do Minotauro que é o prédio. A ponto de nem os funcionários ali se entenderem com o espaço.

Convido-os agora a um exercício de compreensão. O prédio tem dois blocos: A (empresarial) e B (médico). Quando você chega a qualquer uma das entradas principais, o que está diante da porta? Alguém sugeriu "portaria"? Indicação do bloco? Acertou quem falou "parede de armários de madeira da Telemar". Afinal de contas, o acesso precisa ser mais fácil para os técnicos da telefonia do que para clientes ou pacientes.

Vendo a minha expressão confusa, um funcionário me interpela. "Bloco B, sala 320". Ele me indica a próxima entrada. Sigo em frente, entro e diante do elevador placas de sinalização parecem querer dizer alguma coisa. Parece, não tenho certeza. Entro no elevador aberto parado no andar. Ok, todos os botões estão aqui, aperto o 3. Salto no andar, viro à direita, bifurcação sinalizada: salas 301 a 310 para um lado, 312 a 318 para o outro. Nem sinal da 319 ou 320. Experimento pedir informação na recepção mais próxima - o outro lado tem um longo corredor escuro.

O cara que conversava com a recepcionista começa a me explicar que não era ali e qual caminho eu deveria tomar, mas logo se impacienta e prefere me levar até lá, crente que eu não vou acertar. Ele me faz subir os degraus de uma escada atrás de uma porta próxima ao elevador de onde eu vim, desembocando numa garagem. "Vá até o elevador lá do outro lado e o ascensorista lhe informa".

A garagem está cheia de carros, mas é sinistra. Um veículo preto e caro de vidros fumê avança em minha direção. Faróis desligados. Penso em Lynch. Chamo um dos elevadores à minha frente e novamente fico lendo e tentando decifrar sua placa. Se uma sinalização não é compreensível só de bater o olho, isso significa que ela é ruim. Eu dediquei minha compreensão e olhe que não sou exatamente uma criatura tapada. Era mais ou menos assim:

"BLOCO B"
Logo abaixo,
no esqueminha dos andares do prédio,
setinha apontava:
"você está aqui - 3º Andar, Bloco A".

Abre-se a porta da esperança. Um ascensorista. "Quero ir ao Bloco B, sala 320", digo. "É aqui mesmo!", ele responde. Entrei no elevador, já começando a imaginar se seria um 1/2 andar como o 7 1/2 de Quero ser John Malkovich. Subimos então para este outro terceiro andar e, finalmente, cheguei ao lugar certo. Da janela, dava para ver que a altura era realmente de um 6º ou 7º andar.

Na hora de sair do prédio, tentei esquecer de tudo e recomeçar do zero, usar a lógica simples: pegar um elevador e pedir que desça até a saída. "Esse aqui não vai não, senhora. A senhora desce e toma um outro elevador que vai até a saída para a Garibaldi". Novamente parei na tal garagem e no fim das contas, acabei na primeira entrada de todas.

Faz uma semana que passei por essa experiência. Repeti essa história para vários amigos estupefatos - infelizmente, nenhum arquiteto até agora - e por mais que eu pense, não consegui decifrar a lógica deste projeto.

3 Comments:

At 9:25 AM, Blogger semeador said...

Wunderbar!!!! (maravilha!!!)

 
At 4:20 PM, Anonymous Anônimo said...

gente, me poquei de rir!
KKKKK
mutcho bom!
botei fotos de barcelona la no blog.
bjsss

 
At 9:45 PM, Anonymous Anônimo said...

Realmente a pessoa que escreveu JP tem toda razão! É muito confuso, não sei como a SUCOM aprova um projeto desses. Em caso de incêndio, Deus nos acuda!

Morgan

 

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