Corações em fuga
- Mainha, eu vou pro inferno por namorar homem casado?
- Pior, minha filha. Teu coração vai parar no limbo dos mal-amados.
Aquele dardo flamejante atingiu bem no meio do grelo a minha tarde. Desfalecida em êxtase, perdeu-se a calma. Words of love and words so leisured / Words of poisoned darts of pleasure, alertara anteriormente o Kapranos com sua voz juvenil e trejeitos de lúbrico conquistador. As dúvidas multiplicam-se em interrogações que embaçam o cérebro e aceleram a alma. Alvos e opções variadas, insinuações vulgares ou nem tanto assim. A sinceridade receia borrar a maquiagem vadia e expor as veias do coração vagabundo.
Com quantos desejos se faz uma derrapagem? Tentando entender o mapa do deleite sem compromisso com reputação e pudores, elaboro o plano para armar a delícia e escapar da infâmia. Jogar o jogo sem azar, virar a mesa de dados viciados em honrada távola de damas e cavalheiros. Em meio a essa trama, eis que irrompe a flecha ardente inesperada incendiando o paiol guardado por prudência.
No peito assustado - ainda que arquejante mergulhado em volúpia - o coração prepara as trouxas. Tentará uma fuga desesperada madrugada entorpecida adentro, ofuscado por luzes coloridas e estroboscópicas, iludido por beijos lisérgicos de última hora. Sabe que basta um movimento apenas para que esteja rendido. Tem selo de blindagem, mas está exposto, de pernas abertas, umedecido e indolente. Foge, coração! Enquanto há tempo de não haver saudade.
Ele corre. Tropeçando em poças de álcool, resistindo à sedução dos olhos de sanguessuga, esquivando das mãos macias que tiram lascas de sangue. O tempo todo sente que vai cair em tentação, mas segue sem saber o caminho. Acredita que o destino é o descanso naquele abraço de confiança.
Foge, coração! Enquanto há tempo de acreditar.
1 Comments:
vixe.
beijo,
vega
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