o abismo das letras
Tinha pensado em reabrir o blog falando um pouco do tempo parado e do temor de voltar. Pode parecer exagerado, mas a sensação é essa mesmo: medo. O novo é um salto para o desconhecido e isso assusta pessoas como eu. Há quem seja apaixonado e movido por essa adrenalina, mas sou do tipo que prefere ter as coisas no lugar. Que isso não me amordace nem aleije, mas as mudanças me dão calafrios, como um transtorno bipolar que alterna euforias e angústias.
Passei um bom tempo sem escrever. Mentira. Nos últimos três anos, se tem uma coisa que faço com mais regularidade que qualquer outra coisa é escrever, só não escrevo o que se publica assim, dito como de próprio punho. Escrevo coisas que vêm de fora pra dentro e não o contrário, como é mais saboroso. Isso dá uma sensação de saber fazer bem e até demais, mas quando chega a hora de mudar a perspectiva, lá está ele: o abismo da novidade. Quando nos atiramos para ele, é preciso estar de peito aberto, porque há muitas promessas e a concretização, na maior parte das vezes, depende de nossas próprias atitudes. Tomar as rédeas do próprio destino é foda. Principalmente quando se pensa demais. Quem vai fazendo, simplesmente, faz mais fácil. Sem drama. Mas quem pensa... Ai de quem pensa!
O maior monstro desse meu abismo é a expectativa. A minha, especialmente. Tem a dos outros, que não pode faltar, mas também não adivinho o que seja - apenas suponho. Considero meus dedos e miolos meio enferrujados. A falta de histórias para contar também não é animadora. Acontece que acredito que o caminho só se faz à medida que andamos e lá vai ficando a impressão de nossas pegadas numa trilha. Mão na massa é a lei!
E já estava sentindo saudades de viver as coisas com a lente de quem faz jogos de armar em sopa de letrinhas.
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